"Nunca sabemos se [uma invasão] vai acontecer, mas este tipo de assédio de zona cinzenta ou de atividade híbrida acontece todos os dias", garante o investigador em entrevista à Lusa, que participou em Mafra numa conferência sobre segurança.
O elemento do grupo de reflexão 'Instituto de Investigação em Defesa e Segurança Nacional' de Taiwan nota como as ameaças da China são uma "situação contínua", com diversas formas, incluindo operações militares nas proximidades da ilha com governo autónomo, mas tida por Pequim como seu território
Sem serem "verdadeira guerra ou conflito armado", as operações chinesas são o "maior assédio" numa lista que também inclui "infiltração na sociedade", ameaça económica e travões diplomáticos
Num território em que reconhecidamente a grande mais valia económica é o desenvolvimento tecnológico, sobretudo nos semicondutores, Sheu notou como Pequim tem ameaçado politicamente utilizando a agricultura.
É que ao não impor restrições aos produtos taiwaneses faz diminuir os padrões e trava comércio com outros países, além de potenciar um argumento para interromper a qualquer momento as importações e assim originar críticas aos governantes taiwaneses por parte dos agricultores locais.
Quanto a infiltrações na sociedade, o investigador referiu um caso de uma mulher chinesa casada com o um taiwanês que acabou expulsa por divulgar alarmes falsos, enquanto sobre a ameaça militar, destacou alguns números.
Taiwan terá enfrentado em 2021 três vezes mais incursões de Pequim que os países da NATO em relação a Moscovo e o número "aumentou largamente em 2022, mensalmente 280, em 2023, mensalmente 380". Durante todo o ano, houve mais de 3.000 incursões dos aviões de guerra chineses.
"Trata-se de uma espécie de guerra de desgaste" porque requer resposta taiwanesa, na qual também se contabilizam operações marítimas, além de "alguns navios de carga chineses muito estranhos". Essas embarcações "registados noutros países, como talvez, num país africano (...)ou Panamá" causam danos em cabos marítimos de Taiwan e "são cerca de quatro ou cinco vezes superiores à média mundial".
O taiwanês enumerou ainda ataques cibernéticos e a incursão de balões, normalmente utilizados para fins científicos ou meteorológicos, mas que ao serem lançados "oito ou dez simultaneamente" no espaço aéreo de Taiwan podem ser uma "ameaça potencial".
Em relação aos Estados Unidos, Sheu recorda que no primeiro mandato na Casa Branca, Donald Trump quis uma abordagem multilateral na região, mas com "Trump 2.0" ainda é desconhecido o caminho.
Recordando a grande cooperação militar de Taiwan com os Estados Unidos, o especialista estima que o "interesse nacional terá de coincidir perfeitamente com o interesse dos EUA".
"Porque penso que a perspetiva da administração Trump em relação ao interesse nacional será diferente da administração Biden", comenta, antecipando maior aposta no fabrico em solo norte-americano até para criar mais emprego.
"Portanto, nesse sentido, também temos de mudar a nossa orientação política para tentar satisfazer as suas necessidades", comentou o taiwanês, referindo ainda necessidade em reforçar laços com parceiros regionais do "Mar do Sul da China, do Sudeste Asiático, e também, e também Austrália, Nova Zelândia, ou mesmo do Indo-Pacífico como a Índia".
"E também precisamos de fazer mais com as potências europeias" nos domínios da "guerra legal" ou da "guerra da narrativa", defende
o investigador refere como a China poderá também amplificar a desinformação sobre decisões de Washington, ao construir a narrativa de abandono de populações, começando por "Saigão (relativamente à guerra do Vietname no século XX), depois Cabul (retirada do Afeganistão) e amanhã é Taipé".
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