O alerta ocorreu depois de as autoridades norte-americanas terem deportado, a pedido do Presidente norte-americano, Donald Trump, 238 venezuelanos para uma prisão de segurança máxima em El Salvador, por alegadamente pertencerem à organização criminosa Tren de Aragua, acusação que, segundo a imprensa local é contestada pelos familiares de alguns deles.
"Nos últimos meses, registou-se um aumento das medidas arbitrárias de controlo da migração e das políticas de assédio contra os venezuelanos. Foram documentados casos de detenções arbitrárias, deportações sem motivo, confiscação de bens e documentos, assim como de tratamento discriminatório e humilhante por parte das autoridades norte-americanas", indicou o Governo da Venezuela, em comunicado.
O documento, divulgado pelo Ministério de Relações Exteriores, sublinhou que "estas ações incluem detenções sem processo legal e raptos em prisões de países terceiros, em clara violação dos direitos humanos".
Segundo Caracas, "as pessoas que residem ou transitam pelos EUA são aconselhadas a extremar precauções devido ao aumento de incidentes violentos e à aplicação de regulamentos que restringem os direitos fundamentais, o que pode comprometer a sua segurança e bem-estar".
"O Governo Bolivariano reafirma o compromisso com a proteção dos migrantes venezuelanos e continuará a denunciar qualquer violação dos seus direitos. Apelamos à comunidade internacional para que se mantenha vigilante perante estas práticas que violam a dignidade humana e os princípios do direito internacional", sublinhou.
No domingo, o Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, anunciou a chegada de 238 alegados membros do grupo criminoso venezuelano Tren de Aragua e da Mara Salvatrucha (MS-13), transferidos para o Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT) ao abrigo de um acordo com Trump.
No sábado, os EUA expulsaram 261 imigrantes em dois voos para El Salvador e Honduras que partiram do Texas.
Em fevereiro, o Presidente Donald Trump classificou o Tren de Aragua, uma organização criminosa da Venezuela, e o MS-13, um gangue com origem em Los Angeles em 1980, como "organizações terroristas globais".
No sábado, um tribunal tentou travar a deportação de imigrantes que o Governo norte-americano decidiu deportar, mas as autoridades dos EUA alegaram que não receberam a determinação judicial a tempo de impedir a deportação em curso.
Trump invocou a lei de 1798, que não era utilizada desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), para agilizar as deportações de membros do gangue internacional.
A imprensa venezuelana publicou as declarações de familiares de alguns venezuelanos, negando que tenham vínculos com o Tren de Aragua. Denunciaram que alguns deles foram detidos e deportados apenas por terem tatuagens no corpo.
A organização não-governamental Transparência Venezuela, o Tren de Aragua tem mais de quatro mil membros e conseguiu expandir-se para outros países, como Colômbia, Peru, Brasil, Chile, Equador, Bolívia e Costa Rica.
O grupo, que surgiu em 2013, possui armas de guerra e uma estrutura hierárquica definida. O Tren de Aragua teve origem nos sindicatos de trabalhadores da construção de um projeto ferroviário que ia ligar o centro-oeste do país e nunca foi concluído.
O Tren de Aragua está acusado de crimes relacionados com mineração ilegal, tráfico de droga, de seres humanos e armas, contrabando de sucata metálica, extorsão, sequestro, homicídios e roubos.
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