Morreu Oleg Gordievsky, um espião da KGB que ajudou a mudar o curso da Guerra Fria cooperando com o Reino Unido. Morreu aos 86 anos, depois de em 1985 se ter mudado para Godalming, uma cidade a cerca de 64 quilómetros de Londres.
De acordo com o que escreve este sábado a Associated Press (AP), Gordievsky morreu a 4 de março, e a sua morte não está a ser tratada como sendo suspeita, não havendo "nada que indique perigo para o público."
Note-se que Moscovo condenou Gordievsky à morte por traição. Em 2008, Gordievsky disse que foi envenenado e passou 34 horas em coma depois de ter tomado comprimidos para dormir que lhe foram dados por um conhecido, russo.
Dez anos depois, em 2018, os riscos que Gordievsky corria foram recordados, depois de Sergei Skripal e a filha serem envenenados na cidade inglesa de Salisbury, com o agente nervosa Novichok.
A AP conta que no livro 'KGB: The Inside Story', escrita por Gordievsky e pelo historiador britânico Christopher Andrew, é explicado que quando trabalhava para o KGB o agente começou a acreditar que "o Estado comunista de partido único conduzia inexoravelmente à intolerância, à desumanidade e à destruição das liberdades". Por isso, decidiu que a melhor maneira de lutar pela democracia "era trabalhar para o Ocidente."
Como atuou para o fim da Guerra Fria?
Em 1960, Gordievsky tinha responsabilidades de chefia no KGB, 'andando' entre Londres, Moscovo e Copenhaga, mas ficou desiludido após a Primavera de Praga, sendo recrutado pelo MI6 no início dos anos 70.
Em 1983, Gordievsky avisou o Reino Unido e os EUA de que a liderança soviética estava tão preocupada com um ataque nuclear do Ocidente que estava a considerar avançar primeiro com um ataque deste género. Perante o aumento de tensões, causadas durante um exercício militar da NATO na Alemanha, Gordievsky ajudou a tranquilizar Moscovo de que não se tratava de um precursor de um ataque nuclear.
Pouco depois, o então presidente dos EUA, Ronald Reagan, começou a tomar medidas para aliviar as tensões nucleares com a União Soviética.
No ano seguinte, Gordievsky informou o futuro líder soviético Mikhail Gorbachev antes da sua primeira visita ao Reino Unido, informando também, pelo outro lado, os britânicos sobre a forma de abordar o Gorbachev. O encontro entre Gorbachev e a primeira-ministra, Margaret Thatcher, foi um "sucesso", como aponta a AP.
À semelhança de outros historiadores, que sublinhavam o papel importante de Gordievsky, Ben Macintyre - autor do livro 'O Espião e o Traidor', sobre Gordievsky - considerou que este conseguiu "de uma forma secreta lançar o início do fim da Guerra Fria."
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