"É muito cedo para saber se vai funcionar, mas estas foram as reuniões certas, as decisões certas, os passos certos. Ninguém depois disto pode acusar a Ucrânia de não se mover em direção à paz sustentável", declarou Volodymyr Zelensky em conferência de imprensa em Kyiv, após o acordo divulgado pela Casa Branca.
Questionado sobre a data em que deverá entrar em vigor a trégua definida nos acordos alcançados nas negociações na Arábia Saudita, Zelensky acredita que tenha início logo que os Estados Unidos publiquem os compromissos assinados em Riade.
A parte russa indicara anteriormente que exige o levantamento das sanções ocidentais impostas ao setor agrícola como condição para o início da suspensão das ações militares no mar Negro, informou o Kremlin em comunicado.
Na conferência de imprensa, Zelensky opôs-se porém a qualquer "enfraquecimento das sanções" internacionais contra a Rússia, depois de a Casa Branca ter referido que Washington está pronta para ajudar Moscovo a facilitar o acesso dos produtos agrícolas e fertilizantes russos ao mercado global.
"Acreditamos que se trata de um enfraquecimento das sanções", comentou o líder ucraniano, indicando que esta possibilidade não estava na agenda da delegação ucraniana e foi levantada pelos Estados Unidos.
O Presidente da Ucrânia anunciou também que as partes irão realizar novas reuniões o mais breve possível para estabelecer os detalhes técnicos para a implementação dos acordos e a monitorização e controlo do seu cumprimento.
Zelensky levantou a possibilidade de os países europeus e a Turquia se juntarem aos esforços de verificação do entendimento juntamente com os EUA, e disse que o lado ucraniano informaria imediatamente Washington sobre quaisquer violações russas.
O presidente ucraniano negou que a delegação de Kyiv, liderada pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov, tenha discutido uma possível distribuição de territórios ilegalmente anexados pela Rússia, embora tenha dito que os Estados Unidos provavelmente discutiram o assunto com os negociadores do Kremlin.
Noutra frente negocial, Zelensky revelou que os Estados Unidos propuseram o texto de um novo acordo sobre os minérios do seu país.
"Ontem [segunda-feira], a minha equipa informou-me sobre o novo acordo. Este é um acordo de grande escala, tal como previsto pelo lado americano. É assim que eles o veem. Passou por etapas anteriores, como o acordo-quadro (...) Agora, os Estados Unidos propuseram um acordo importante imediatamente", disse Zelensky, citado a este respeito pela agência Ukrinform.
Os Estados Unidos anunciaram um entendimento com as delegações ucraniana e russa para uma trégua dos combates no mar Negro, no âmbito das negociações na Arábia Saudita sobre o conflito na Ucrânia.
Os dois países concordaram "garantir a segurança da navegação, eliminar o uso da força e impedir o uso de embarcações comerciais para fins militares no mar Negro", afirmou a Casa Branca, que fez o anúncio do acordo com Kyiv e Moscovo em declarações separadas.
Nos textos, Washington indicou também que as partes deram o seu acordo para "desenvolver medidas" com vista a proibir os ataques às instalações energéticas russas e ucranianas.
Em relação à Rússia, os Estados Unidos comprometeram-se a ajudar a restaurar o acesso ao "mercado global de exportações agrícolas e de fertilizantes", bem como a facilitar o acesso aos portos e aos sistemas de pagamento destas transações.
Sobre a Ucrânia, a administração do Presidente norte-americano, Donald Trump, prometeu "ajudar a concretizar a troca de prisioneiros de guerra, a libertação de civis e o regresso de crianças ucranianas transferidas à força" para território russo.
"Os Estados Unidos vão continuar a facilitar as negociações entre os dois lados para alcançar uma solução pacífica, consistente com os acordos alcançados em Riade", acrescentou a Casa Branca, na sequência das negociações com os representantes de Kyiv e Moscovo, iniciadas no domingo na capital saudita.
A Rússia já tinha exigido "garantias claras de segurança" à Ucrânia para retomar a implementação da Iniciativa do mar Negro, que vigorou no primeiro ano do conflito, em 2022.
A Iniciativa do Mar Negro, uma trégua marítima assinada em junho de 2022 e em vigor durante um ano, com envolvimento das Nações Unidas e da Turquia, permitiu a exportação de milhões de toneladas de cereais e outros produtos alimentares dos portos ucranianos, bloqueados com o início da invasão russa.
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