"É preocupante ver as decisões iniciais de um tribunal de Istambul para libertar os jornalistas tenham sido imediatamente anuladas após a intervenção do procurador, de acordo com os seus advogados e representantes", disse a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Liz Throssell, num e-mail à AFP.
"É essencial garantir a segurança e os direitos dos profissionais dos meios de comunicação que exercem as suas atividades profissionais, incluindo quando estão a cobrir grandes protestos, como os de Istambul", acrescentou Throssell.
Entre os presos preventivamente estão sete jornalistas, incluindo um da AFP, acusado pelas autoridades de também participar em reuniões proibidas pelas autoridades turcas.
O diretor da AFP, Fabrice Fries, pediu na terça-feira à noite a "libertação rápida" do seu fotógrafo, que foi transferido para a prisão.
"Yasin Akgül não se estava a manifestar, estava a cobrir como jornalista um dos muitos protestos que ocorreram em todo o país desde quarta-feira, 19 de março", afirmou Fries.
Akgul foi detido na madrugada de segunda-feira em casa e, mais tarde, foi libertado. Um procurador de Istambul pediu na terça-feira a detenção dos sete jornalistas, incluindo o fotógrafo da AFP, segundo um dos seus advogados. Mais tarde no mesmo dia, um juiz turco ordenou a prisão preventiva de Akgul, acusado pelas autoridades de participar numa manifestação ilegal.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos não está presente na Turquia, mas indicou ter recebido "vários relatos credíveis sobre a detenção de uma dúzia de jornalistas, incluindo detenções durante rusgas policiais de madrugada nos domicílios".
Segundo a porta-voz Liz Throssell, o organismo da ONU "recebeu vários relatos de acesso público restrito a diversas plataformas de redes sociais, o que viola o direito à liberdade de expressão ao privar as pessoas do direito de procurar, receber e transmitir informações".
A rede social X anunciou que vai levar o caso para o Tribunal Constitucional da Turquia, após um pedido das autoridades do país para bloquear mais de 100 contas críticas ao Governo na sua plataforma.
Milhares de pessoas têm saído às ruas em Istambul e noutras cidades turcas nas últimas noites para protestar contra a detenção do presidente da Câmara de Istambul e opositor do Presidente Erdogan, Ekrem Imamoglu, na quarta-feira passada sob a acusação de corrupção e ligações terroristas, que ficou posteriormente em prisão preventiva.
A tensão política na Turquia continua a aumentar depois de Recep Tayyip Erdogan, no poder há mais de duas décadas, ter avisado que não ia tolerar "ataques de grupos marginais e 'hooligans' urbanos".
A comunidade internacional e organizações internacionais, como a ONU, têm criticado a detenção do autarca e de vários manifestantes, incluindo jornalistas.
Segundo o ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya, 1.418 suspeitos foram detidos na última semana em manifestações consideradas ilegais pelo Governo.
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