Na cidade de Beit Lahia, onde ocorreu um protesto semelhante na terça-feira, cerca de três mil pessoas saíram hoje às ruas, gritando slogans como "o povo quer a queda do Hamas", segundo a agência AP.
A mesma fonte adianta que no bairro de Shijaiyah, na Cidade de Gaza, duramente atingido pelos combates e ataques israelitas, dezenas de homens gritaram "Fora, fora, fora! Hamas, fora!"
"As nossas crianças foram mortas. As nossas casas foram destruídas", disse Abed Radwan em Beit Lahia, manifestando-se "contra a guerra, contra o Hamas e as facções (políticas palestinianas), contra Israel e contra o silêncio do mundo".
Ammar Hassan, que participou numa manifestação na terça-feira, disse por telefone à AP que tudo começou como um protesto anti-guerra com algumas dezenas de pessoas, mas aumentou para mais de 2.000, com pessoas a gritar contra o Hamas.
"Os protestos não vão travar a ocupação (israelita), mas podem afetar o Hamas", adiantou.
O grupo militante reprimiu violentamente protestos anteriores, mas desta vez, não houve qualquer intervenção direta.
Um alto funcionário do Hamas, Bassem Naim, escreveu numa publicação no Facebook que as pessoas tinham o direito de protestar, mas que o seu foco deveria estar no "agressor criminoso", Israel.
Um protesto semelhante ocorreu na terça-feira na área fortemente destruída de Jabalia, de acordo com testemunhas.
Um manifestante em Jabalia, que falou à AP sob anonimato por medo de retaliação, disse que aderiu porque "todos falharam" com os palestinianos, incluindo Israel, o Hamas, a Autoridade Palestiniana apoiada pelo Ocidente e os mediadores árabes.
Os participantes disseram que não havia forças de segurança do Hamas no protesto, mas houve lutas entre apoiantes e opositores do grupo.
Mensagens de origem desconhecida convocando protestos em vários locais da Faixa de Gaza têm circulado com insistência desde início da semana.
Israel desafia frequentemente os palestinianos em Gaza a rebelarem-se contra o movimento islâmico que tomou o poder no território em 2007, expulsando o movimento rival Fatah e não mais organizando eleições.
O protesto acontece uma semana depois de o exército israelita ter quebrado o cessar-fogo em vigor desde 19 de janeiro, retomando os bombardeamentos e as incursões militares em Gaza, fazendo quase 800 mortos.
O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, pediu aos palestinianos que se juntem aos protestos.
"Devem também exigir a remoção do Hamas de Gaza e a libertação imediata de todos os reféns israelitas. Essa é a única forma de parar a guerra", disse.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas a Israel, a 07 de outubro de 2023, que fez mais de 1.200 mortos em poucas horas, na maioria civis.
O número de mortos na Faixa de Gaza desde o início da guerra, em outubro de 2023, superou no fim de semana os 50 mil, na sequência dos últimos bombardeamentos israelitas no enclave palestiniano, segundo dados fornecidos pelas autoridades locais, controladas pelo Hamas.
O grupo islamita ameaçou hoje que os reféns israelitas ainda mantidos em Gaza podem ser mortos se Israel tentar libertá-los à força ou se os ataques de Telavive ao território palestiniano continuarem.
O movimento garantiu, em comunicado, que está a fazer "todos os possíveis para manter os prisioneiros vivos", acusando Israel de "colocar as vidas [dos reféns] em perigo" com os seus bombardeamentos.
"Cada vez que a ocupação [israelita] tenta resgatar os prisioneiros à força, acaba por levá-los de volta em caixões", acrescentou o Hamas.
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