Uma juíza determinou, esta quinta-feira, que o processo de difamação contra Trump que envolve também o grupo conhecido como 'Central Park Five' pode continuar.
Em causa está um processo que foi aberto em outubro do ano passado, depois de o então candidato presidencial Donald Trump - agora presidente - se ter referido ao grupo de cinco homens que foram injustamente acusados da morte de uma mulher em Nova Iorque, em 1989.
Recorde-se que apesar de terem admitido o crime num primeiro momento, os acusados, que na altura eram adolescentes, explicaram que o fizeram sob coação - num caso que se tornou conhecido e expõe o racismo patente no sistema judicial do país. O caso sempre foi polémico mas, em 2019, teve um regresso e repercussão a nível mundial aquando se estreou na Netflix a série 'When They See Us' ['Aos Olhos da Justiça', no título em português].
No processo, os cinco queixosos - Yusef Salaam, Raymond Santana, Kevin Richardson, Antron Brown e Korey Wise - acusaram Trump de omitir "factos fundamentais", que tornaram "as suas declarações falsas", incluindo o facto de os procuradores de Manhattan terem reconhecido as falhas do caso, de terem sido exonerados e da confissão do verdadeiro autor do crime.
O que disse Trump?
Durante um debate com a sua então opositora, a democrata Kamala Harris, Trump falou sobre o caso, dizendo: "Eles admitiram. Eles disseram, eles declararam-se culpados".
As declarações surgiram depois de ter sido criticado por Harris, pelas suas declarações anteriores sobre o caso. "Bem, se se declararam culpados, feriram gravemente uma pessoa, mataram uma pessoa, em última análise", acrescentou o agora presidente.
Mas esta não foi a primeira vez que Trump falou no caso, já que, já na altura da situação Trump pagou a quatro jornais para colocarem anúncios onde era defendido a restituição da pena de morte. Os anúncios não falavam especificamente do grupo.
Também em 2016, durante a sua primeira campanha, Trump reforçou o que achava sobre a situação, considerando já aí que o grupo "tinha dito que era culpado" e que a investigação criminal dava conta de que eles eram culpados.
Note-se que o ADN encontrado no corpo da vítima, Trisha Meili, não correspondia a nenhum do material genético de qual um dos acusados, que estavam próximos do local onde o crime aconteceu - acabando assim detidos. Durante a detenção, os jovens foram privados de comida, água ou de dormirem por mais de um dia.
Já enquanto presidente, em 2019, Trump foi questionado sobre a situação - no mesmo ano em que a série foi emitida. "Admitiram que eram culpados", respondeu, sem pedir desculpa por qualquer intervenção que tenha tido nesta história.
E o que diz a juíza?
Agora, a juíza Wendy Beetlestone determinou que as palavras que motivaram este processo podiam ser "objetivamente determinadas" como falsas, pelo que as suas declarações podiam ser interpretadas como factos e não como opiniões.
"Os queixosos não estavam apenas no processo de serem exonerados, o seu nome tinha sido limpo há mais de vinte anos, por isso o réu não pode argumentar que afirmar que eles se declararam culpados de crimes é substancialmente verdadeiro, quando a verdade é que os queixosos não são de todo culpados desses crimes", explicou, referindo-se ao facto de ter ficado provado que estes eram inocentes quando, em 2002, os homens foram exonerados uma outra pessoa, Matias Reyes confessou ter violado a mulher, que ficou gravemente ferida e em coma durante 12 dias, sobrevivendo.
Note-se que o grupo, conhecido agora como 'Os Cinco Exonerados', passaram entre seis a 13 anos na prisão - com alguns deles a cresceram como adolescentes em estabelecimentos de elevada segurança.
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