Gabão. Líder do golpe militar apontado como favorito nas presidenciais

O "homem-forte" do Gabão desde o golpe de Estado de 2023, brigadeiro-general Brice Oligui Nguema, é apontado como favorito nas presidenciais de sábado, formalizando constitucionalmente o fim da dinastia Bongo, que estava no poder desde 1967.

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© Desirey Minkoh/Afrikimages Agency/Universal Images Group via Getty Images

Lusa
11/04/2025 10:52 ‧ há 5 dias por Lusa

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Independente da França em 1960, o Gabão passou a ser governado desde 1967 pela família Bongo: primeiro por Omar Bongo (1967-2009) e depois pelo filho, Ali Bongo (2009-2023).

 

O brigadeiro-general Brice Oligui Nguema chega ao poder depois de liderar golpe que derruba o primo, Ali Bongo, em 30 de agosto de 2023, no mesmo dia em que foram anunciados os resultados oficiais das eleições presidenciais.

Os militares justificaram o derrube de Ali Bongo com a manipulação e falta de credibilidade do escrutínio, e Oligui Nguema, em vez de apelar a uma análise independente da contagem dos votos para reconhecer o vencedor legítimo, decidiu nomear-se a si próprio como Presidente de transição.

Em declarações à Lusa, Joseph Siegle, diretor de Investigação do 'think-tank' Centro de Estudos Estratégicos de África, com sede em Washington, considera que Oligui Nguema "cultivou a imagem de um reformador, aproveitando-se da repulsa popular contra a libertinagem e a repressão do Governo de Ali Bongo e da dinastia da família Bongo que governou o Gabão durante 56 anos".

"Isto esconde o facto de Oligui Nguema ser um confidente de longa data da família Bongo. É primo de Ali Bongo e foi ajudante de campo de Omar Bongo até à sua morte, em 2009. Foi chefe dos serviços de informação da Guarda Republicana antes de ser nomeado por Ali Bongo para dirigir a Guarda em 2020", acrescenta.

O processo de normalização da liderança de Oligui Nguema envolveu uma revisão constitucional e um novo código eleitoral, instrumentos que "permitiram à liderança militar manter formalmente o seu controlo sobre o poder".

O código eleitoral incluiu diretivas que impediu muitos candidatos da oposição de concorrerem à votação de sábado, designadamente impondo o limite de idade de 70 anos que atingiu Albert Ossa, o candidato derrotado por Ali Bongo em 2023.

Além destes obstáculos, Oligui Mguema manobrou de forma a impor outras limitações, observa Joseph Siegle.

"As mudanças no código eleitoral precisam ser consideradas no contexto de outras limitações num processo eleitoral livre e justo. Isso inclui nomear militares leais para dois terços dos lugares do Senado e da Assembleia Nacional, nomear todos os nove membros do Tribunal Constitucional e sediar um diálogo nacional rigorosamente roteirizado em meados de 2024, do qual 200 partidos políticos foram banidos e em que os militares desempenharam um papel proeminente", afirma Siegle.

O brigadeiro-general "parece estar a reproduzir o manual de transição do golpe de Estado do general Mahamat Idriss Déby Itno, do Chade, que ignorou o processo de sucessão previsto na Constituição para tomar o poder em abril de 2021, declarar-se Presidente da transição, organizar um diálogo nacional encenado e realizar um referendo constitucional viciado que lhe abriu a porta para declarar a vitória na eleição presidencial de maio de 2024", compara.

Assim, Oligui Nguema "é, em muitos aspetos, mais uma continuação do que um afastamento da dinastia Bongo. A sua tomada de poder extraconstitucional é também um aviso dos riscos de um exército politizado que se torna tão essencial para a manutenção de um regime autocrático no poder que as barreiras à tomada de poder se tornam cada vez mais irrelevantes", acrescenta.

Além de Oligui Nguema, sete outros candidatos estão na corrida, incluindo o antigo primeiro-ministro do Presidente deposto Ali Bongo, Alain-Claude Bilie By Nze, de 57 anos, apontado pela imprensa gabonesa como o mais sério opositor e ainda o advogado e inspetor das finanças Joseph Lapensée Essingone, o médico Stéphane Germain Iloko Boussengui, e ainda Axel Stophène Ibinga Ibinga, Alain Simplice Boungoueres, Thierry Yvon Michel Ngoma e Zenaba Gninga Chaning, a única mulher concorrente.

A missão de observação eleitoral da União Africana é liderada pelo antigo primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, e integra 50 observadores de 24 Estados-membros da organização continental, designadamente dos lusófonos Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

Apesar da riqueza petrolífera de que dispõe e do rendimento 'per capita' de 9 mil dólares (cerca de 8 mil euros), um dos mais elevados de África, a taxa de desemprego é de 30% e, segundo a ONU, 44,7% da população vive abaixo do limiar de pobreza.

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