Donald Trump é o representante da "oligarquia fóssil" dos EUA

Donald Trump é o porta-voz direto da "oligarquia fóssil" e a sua administração constitui uma "mistura tóxica", disse em declarações à Lusa o sociólogo Michael Löwy, que hoje participou num debate em Lisboa.

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Lusa
09/02/2017 19:23 ‧ 09/02/2017 por Lusa

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Sociólogo

"O que acontece nos Estados Unidos é um fenómeno novo, não obedece aos padrões tradicionais da política conservadora desse país. É um fenómeno de nacionalismo conservador, reacionário, xenófobo, racista, com protecionismo económico. Muito preocupante, e também com aspetos de sexismo, é uma mistura tóxica", considerou o sociólogo, 78 anos, natural de São Paulo e de dupla nacionalidade brasileira e francesa.

Filho de pais judeus provenientes de Viena, Michael Löwy nasceu no Brasil em 1938, obteve a licenciatura em Ciências Sociais na universidade de São Paulo em meados da década de 1950 e na seguinte instalou-se em Paris, onde realizou o doutoramento e prosseguiu uma intensa carreira académica.

"Do ponto de vista ecológico é um desastre monstruoso", afirma ainda numa referência à nova administração da Casa Branca.

"Trump é o porta-voz direito do que chamaria a oligarquia fóssil. Dos interesses das energias fósseis, do petróleo, do carvão, de tudo o que está relacionado, caso da indústria automóvel. Um aparelho enorme e ele é o porta-voz direto dessa oligarquia fóssil, que está preparada para queimar petróleo e carvão sem limites", indica, recordando a designação para secretário de Estado de Rex Tillerson, ex-patrão da petrolífera ExxonMobil.

Michael Lowy foi o convidado do Ciclo Utopias, no âmbito do tema Arquipélago Comum, que revisita os muitos projetos utópicos alternativos (socialismo, comunismo, anarquismo) que surgiram entre finais do século XIX e início do século XX.

Uma parceria entre o Teatro Maria Matos e o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito do seu programa em torno do centenário da Revolução de Outubro de 1917.

O tema "Romantismo e Revolução" foi abordado pelo convidado e pelo jornalista António Guerreiro, com introdução prévia a cargo do professor universitário José Neves.

"Nesta situação vamos avançar em direção a uma catástrofe ecológica, vamos avançar rapidamente em direção ao ponto em que já não podemos segurar o aquecimento global. É muito preocupante", alerta o sociólogo, diretor de investigação emérito em Ciências Sociais no Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS) e professor na Escola de Altos estudos em Ciências sociais (EHESS), de Paris.

"A esperança é a resistência que está a acontecer, dos indígenas, das mulheres, da juventude, dos sindicatos, boa parte da população está em luta contra o 'trumpismo'. Essa é a nossa esperança", assinala Löwy, que cresceu no turbulento Brasil da Nova República, tornando-se em 1954, com 16 anos, um convicto socialista.

Numa referência à atual situação na América Latina, refere-se a uma "ofensiva conservadora neoliberal com aspetos autoritários" e que contou com uma "certa neutralidade" da anterior administração de Barack Obama.

"Em alguns casos são vitórias eleitorais, no caso da Argentina, e em outros casos são golpes de Estado pseudo-legais, pseudo-parlamentares, que começou nas Honduras em 2009 com o derrube do governo de centro-esquerda, depois no Paraguai com o derrube do Presidente Lugo, pessoas muito moderadas derrubadas por esses golpes pseudo-legais", sublinha o académico, autor de obras sobre Karl Marx, Georg Lukács, Walter Banjamin ou Franz Kafka.

Entre os seus livros, estão publicados em Portugal "Revolta e Melancolia -- O Romantismo Contra a Corrente da Modernidade" (Bertrand, 1997), "O Pensamento de Che Guevara" (Bertrand, 1976) e "Utopias" (2016).

Numa referência ao seu país natal, refere-se às "acusações ridículas" dirigidas à ex-Presidente Dilma Rousseff, "pretexto para um golpe de Estado que instalou um governo autoritário que tem uma base pseudo-legal e muito reacionário, comprometido com uma agenda neoliberal extrema".

Michael Löwy recordou uma recente lei aprovada pelo parlamento de Brasília "que vai congelar as despesas de saúde e educação por 20 anos e que incluíram na Constituição". Uma situação ainda definida como "muito preocupante", num mundo onde a esperança também existe.

 

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