Quando decidiu avançar com a sua candidatura às presidenciais francesas, Emmanuel Macron, antigo ministro da Economia de François Hollande e de Manuel Valls, colocou em causa todo o sistema partidário tradicional francês ao candidatar-se como independente e ao ocupar um lugar que até então estava reservado aos Republicanos (centro-direita) ou ao Partido Socialista (centro-esquerda).
Muitos acusaram-no de ter traído o anterior primeiro-ministro francês, bem como o atual presidente, mas a verdade é que Macron, através do seu movimento 'Em Marcha', tem vindo a ganhar terreno e disputa, atualmente, com Marine Le Pen a vitória na primeira volta das presidenciais, sendo apontado como um dos grandes favoritos à batalha decisiva, a 7 de maio.
A sua juventude (apenas 39 anos de idade) tem gerado dúvidas nos seus oponentes e no eleitorado francês, ainda muito indeciso relativamente às intenções de voto. No entanto, Macron, em entrevista à RTP, reiterou, esta terça-feira, que a sua idade não coloca em causa a sua preparação para exercer a presidência: Confia o seu futuro aos franceses, afirmando que se for vencedor é porque está preparado a "nível pessoal" e os franceses a "nível coletivo".
Assumidamente pró-europeu e reformista, destaca-se por combater o ceticismo em relação à União Europeia dos seus adversários, em particular à esquerda, e o populismo e extremismo, à direita. Contudo, por se considerar um candidato do centro e por tentar captar eleitorado em todo o espetro político, é difícil perceber qual a margem de crescimento (ou diminuição) do seu eleitorado.
Para Natalie Nougayrède, colunista do The Guardian, Macron é uma "lufada de ar fresco na política francesa". A antiga editora do Le Monde chama a atenção para a comparação de Macron com líderes como o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau e o antigo líder do governo britânico Tony Blair, notando que, apesar da figura conciliadora que o líder do movimento 'Em Marcha' transparece, terá de ter em conta problemas internos e externos.
"Há uma semelhança que merece atenção: Tal como Trudeau e Blair, Macron quer reivindicar uma forte narrativa sobre diversidade e inclusividade. Numa época marcada pelo florescimento do populismo, e numa altura em que França está traumatizada por uma onda de ataques terroristas, isso significa que ele enfrenta alguns ventos contrários", afirma.
Quatro candidatos disputam o Eliseu
A campanha oficial para as eleições de 23 de abril começou na segunda-feira, dia 10, e a principal surpresa é, até ao momento, Jean-Luc Mélenchon, que, nas últimas semanas, tem crescido exponencialmente nas intenções de voto, ultrapassando Hamon, candidato apoiado pelo Partido Socialista e o seu principal adversário à esquerda.
Se inicialmente assistíamos a uma corrida a três entre Macron, independente, a Frente Nacional de Le Pen e François Fillon, candidato dos Republicanos, o crescimento do líder da esquerda radical veio baralhar ainda mais as contas, procurando roubar eleitorado não só aos socialistas como também a Macron.
Segundo uma sondagem divulgada na segunda-feira pela Dataviz, citada pela Reuters, Marine Le Pen venceria as eleições presidenciais com 24% votos, disputando a segunda volta com Emmanuel Macron, que teria menos 1% que a sua maior adversária.
No entanto, as contas estão longe de estar fechadas e tudo pode acontecer até ao dia 23 de abril, data em que os franceses decidem quem será o seu próximo, ou próxima, presidente.
Na mesma sondagem, François Fillon, aparece em terceiro lugar, com 18,5%, com Mélenchon colado aos seus calcanhares, com 18%, ameaçando ultrapassar o candidato da direita que enfrenta a justiça francesa em casos de corrupção. Já o socialista Benôit Hamon continua em queda, cada vez mais afastado das contas finais.
Numa eventual segunda volta, qualquer candidato venceria a líder da extrema-direita, segunda os números da Dataviz. No confronto final com Le Pen, Macron sairia vencedor com 58% dos votos.
A segunda volta das eleições, em que apenas estarão os dois candidatos mais votados, decorre a 7 de maio.