Com o lema de campanha "A França Insubmissa", Mélenchon, um orador inflamado que promete defender o povo contra a oligarquia, é identificado por muitos dos que não partilham as suas posições com a "esquerda radical populista" de um grego Syriza ou um espanhol Podemos.
As sondagens colocam-no no terceiro lugar, com uma pequena vantagem sobre o candidato da direita, François Fillon, e atrás dos dois favoritos, a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, e o candidato independente liberal, Emmanuel Macron.
Filósofo de formação, admirador do revolucionário francês Robespierre e da esquerda latino-americana personificada por Hugo Chávez, Mélenchon, 65 anos, mantém o radicalismo, mas abandonou o discurso violento de outrora e abraçou o humor e os "soundbytes".
"Estou mais filósofo que nunca, menos impetuoso. A conflitualidade mostrou os seus limites. Mas não se pode propor o que proponho com cara de primeira comunhão e voz flautada. Às vezes não há alternativa, é preciso abrir as portas a pontapé", disse recentemente.
O estilo é-lhe proveitoso na internet: o seu canal no YouTube é o mais visto dos políticos franceses e no Twitter tem um milhão de seguidores, meios que Mélenchon defende como imprescindíveis para passar a sua mensagem sem a filtragem dos 'media', com os quais mantém péssimas relações.
Nos comícios, o seu discurso consegue prender a atenção da audiência, mesmo quando recorre a um holograma para aparecer em diferentes eventos simultaneamente -- a 18 de abril chegou a aparecer em sete ações de propaganda simultâneas, incluindo a Ilha de Reunião, no Pacífico.
Nascido em Marrocos, passou pelo militantismo estudantil e entrou para o Partido Socialista com 25 anos. Eleito deputado pelo subúrbio parisiense de Essone, integrou um governo entre 2000 e 2002, como ministro delegado do Ensino Superior.
Em 2004 foi um dos rostos do PS que fez campanha pelo "não" à Constituição Europeia, contra a postura oficial do partido. Foi nessa altura, contou mais tarde, que se apercebeu da sua capacidade para convencer as massas e do que o distanciava do "partido de notáveis" em que militava desde 1976.
Trinta anos depois, em conflito com o PS, abandonou o partido em 2008 e criou o Partido de Esquerda. Forjou uma aliança com o Partido Comunista e candidatou-se às presidenciais de 2012, obtendo 11,1% dos votos na primeira volta e tornando-se um figura central da esquerda.
Mas, nas legislativas que se realizaram pouco tempo depois, o seu movimento ficou muito aquém do esperado, depois de contestar no seu próprio terreno Marine Le Pen, com quem disputa o eleitorado popular.
A primeira volta das presidenciais de França realiza-se no domingo, 23 de abril. Os dois candidatos mais votados disputam uma segunda volta, marcada para 7 de maio.