Lina Medina apareceu num hospital peruano, em 1939, grávida de oito meses. Poderia ser mais uma história de uma gravidez não desejada em tempos difíceis, não fosse o facto de esta mãe ter apenas cinco anos e seis meses, conforme foi confirmado pelo médico que a atendeu. Era o início da história mediática da mãe mais jovem do mundo.
José Sandoval, ginecologista, é o biógrafo de Lina Medina, que publica agora a história da sua vida de forma alargada, conforme explica o El Mundo. ‘Madre a los cinco años’ descreve o percurso da peruana desde a sua infância à gravidez inusitada, passando por todas as dificuldades que daí advieram.
Natural de Antacancha, no interior do Peru, ninguém sabia dizer o que se passaria com aquela criança, que passou inclusive por xamãs para tentar determinar a causa do crescimento do seu ventre. Sem respostas possíveis, o pai de Lina e um dos seus irmãos (eram nove) decidiram levá-la ao hospital, onde foi confirmada a gravidez para estupefação dos médicos.
Corria o mês de abril de 1939 e a notícia depressa correu o país. O pai e os cinco irmãos varões de Lina foram detidos e interrogados, mas sem se chegar a um culpado. A menina recusava-se a dizer quem era o pai do bebé que carregava e não havia como provar a paternidade.
À esquerda, Lina com nove meses de gravidez. À direita, Lina com o seu filho, Gerardo, quando eram coqueluche dos meios de comunicação social.© Reprodução
A 11 de maio de 1939, Lina foi submetida a uma cesariana e nasceu um menino com 2,7 quilos e 48 centímetros. Ficou entregue aos cuidados das enfermeiras do hospital, uma vez que Lina era demasiado nova para a responsabilidade e preferia brincar.
Lina ainda no hospital, com o filho ao colo. A menina ainda tinha dentes de leite quando deu à luz© Reprodução
O cirurgião que fez o parto da menina retirou uma amostra dos ovários para perceber como foi possível aquela gravidez e confirmou que Lina sofria de puberdade precoce, ou seja, o seu útero era o de uma mulher adulta.
Gerardo, o filho, nome dado em homenagem ao médico que a operou, tinha apenas cinco anos de diferença da mãe. A história dos dois não viria a terminar feliz. Sempre viveram em dificuldades, apesar do interesse público na sua história (os apoios e doações cessaram, a dada altura), e Gerardo acabaria por se tornar alcoólico. Morreu aos 40 anos, em 1979.
Última fotografia conhecida de Lina, tirada em 2002.© Reprodução
Lina, que tinha voltado a casar e a ter outro filho, aos 38 anos, acabou por ficar viúva em 2009. Hoje tem 84 anos e mora em Pisco, a sua cidade natal, com familiares. Durante a sua vida, teve algumas ofertas de pequenas fortunas para contar quem era o pai de Gerardo, quem a engravidou com apenas cinco anos, mas nunca contou.