"Queremos fazer um apelo à calma", declarou a vice-presidente da Câmara da capital espanhola, Marta Higueras, após novos incidentes ao fim da manhã, anunciando que a presidente do município, Manuela Carmena, havia encurtado uma estada em Paris para regressar a Madrid.
Pelas 18h00 (17h00 em Lisboa), mais de um milhar de pessoas estavam concentradas numa das praças do bairro central de Lavapiés, na maioria jovens vestidos de negro e equipados com lenços, alguns deles gritando "Polícia assassina!".
Em Barcelona, também houve uma manifestação.
Os participantes responderam à convocatória para protestarem feita pelo "Sindicato dos 'Manteros'" (termo utilizado em Espanha para designar os vendedores ambulantes), que quer "denunciar o racismo institucional" que conduziu ao "assassínio" de Mame Mbaye Ndiaye, um cidadão senegalês de 35 anos.
Na quinta-feira à tarde, Mbaye Ndiaye fugira de uma intervenção da polícia na muito turística praça da Puerta del Sol e tinha chegado ao bairro de Lavapiés, onde residem pacificamente espanhóis e imigrantes de todas as nacionalidades.
Segundo os serviços de emergência, o senegalês foi vítima de convulsões e sofreu um ataque cardíaco, seguido de paragem cardiorrespiratória.
À noite, dezenas de manifestantes atiraram pedras e garrafas a um camião de bombeiros, e numerosos polícias que se encontravam no local ripostaram disparando balas de borracha.
Elementos de mobiliário urbano, entradas de sucursais bancárias e bicicletas foram incendiados.
A polícia contou dez feridos nas suas fileiras e fez seis detenções, mas não se registaram mais feridos.
O Senegal protestou junto de Espanha e exigiu uma "investigação independente".
"Convoquei imediatamente o embaixador de Espanha (em Dakar) para lhe transmitir uma nota verbal de protesto", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros senegalês, Sidiki Kaba, à rádio privada RFM.
Segundo um vereador encarregado da polícia municipal de Madrid, José Javier Barbero Gutiérrez, Mbaye Ndiaye sucumbiu a uma paragem cardíaca cerca de 15 ou 20 minutos depois de "ter aparentemente chegado à Puerta del Sol, onde ocorreu uma intervenção policial sobre a venda ambulante".
"Não temos conhecimento de uma intervenção policial que o visasse pessoalmente", acrescentou o responsável, enquanto muitos senegaleses garantiam que ele se viu obrigado a correr porque estava a ser perseguido.
A Câmara de Madrid anunciou um inquérito aprofundado e solicitou as gravações das câmaras de rua no seu percurso.
A Espanha, com 46,5 milhões de habitantes, tem cerca de 10% de estrangeiros, dos quais apenas 64.000 são senegaleses.