Bruno Miguel Gomes explicou que a investigação, "que nem foi complicada", começou com uma denúncia anónima contra o ex-procurador Orlando Figueira e que começou pela análise de documentos bancários e fluxos financeiros.
Na fase inicial, confessou o inspetor que no processo Banif trabalhou com o ex-procurador do Ministério Público, até achou que a denúncia não teria fundamento, mas após a análise dos dados bancários, nomeadamente de transferências de dinheiro, convenceu-se que haveria uma ligação.
"Analisámos os processos que foram tramitados por Orlando Figueira e um encaixava perfeitamente nas datas, transferências de dinheiro, etc.", referiu o inspetor-chefe.
"Vimos que tinha uma quantidade de dinheiro depositado que não lhe vinha do trabalho e onde encontrámos a motivação foi no arquivamento do processo relacionado com Manuel Vicente (Portmill)", acrescentou.
Nessa altura, adiantou, a PJ recorreu a fontes abertas, nomeadamente no Google, e os inspetores ficaram convencidos que havia uma ligação entre a Primagest, empresa que alegadamente pagou a Orlando Figueira, e a Sonangol, petrolífera da qual Manuel Vicente tinha sido presidente.
Nas buscas a casa de Orlando Figueira, em fevereiro de 2015, a polícia encontrou o contrato de trabalho assinado com a Primagest e um envelope do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) com 22 documentos do processo Portmill, relacionado com a compra de apartamentos no Estoril por Manuel Vicente e que tinha sido arquivado por Orlando Figueira.
As declarações do polícia chegaram a enfurecer Orlando Figueira que se levantou e quis intervir, tendo sido chamado à atenção pelo juiz.
No entender da PJ e da acusação, a Primagest foi a empresa-veículo para o branqueamento de capitais, um dos crimes pelos quais os três arguidos são acusados, que chegou mesmo a ser alvo de buscas, tal como a sua representante Angélica Conchinha.
O inspetor argumentou ainda que, na sua experiência, os pactos societários normalmente não refletem as empresas que são instrumentos de branqueamento de capitais.
Sendo assim, explicou, chegaram lá pelo beneficiário (Orlando Figueira) e por várias notícias que estavam na internet.
No final da sessão da manhã, Orlando Figueira lamentou que "se tenha detido uma pessoa durante dois anos" com base em fontes abertas, como notícias e pesquisas no Google.
O advogado Rui Patrício, que defende o empresário Armindo Pires (tido pelo Ministério Público como o 'testa de ferro' de negócios de Manuel Vicente), falou de "uma personagem chamada Google" que fez as ligações, referindo que "é fácil encontrar coisas certas, coisas erradas" e, "nos últimos dias, até pessoas com responsabilidade a dizerem disparates", acrescentou, sem concretizar.
Para hoje à tarde está prevista a audição do coordenador da Unidade de Combate à corrupção da PJ Pedro Fonseca.
A Operação Fizz assenta na acusação de que Manuel Vicente pagou 760 mil euros a Orlando Figueira, para que este arquivasse dois inquéritos, um deles o caso da empresa Portmill, relacionado com a aquisição de um imóvel em 2008.