O Estudo Consumos e Estilos de Vida no Ensino Superior, hoje apresentado e realizado em conjunto pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD), Observatório Permanente da Juventude do Instituto de Ciência Sociais da Universidade de Lisboa e Conselho Nacional da Juventude, procurou aferir os hábitos na prática de desporto, alimentação, lazer, ingestão de bebidas alcoólicas e consumo de substâncias psicoativas, inquirindo através da Internet mais de três mil alunos.
Vítor Ferreira, investigador do ICS e coordenador do estudo, disse à Lusa que o objetivo do trabalho, que se pela primeira vez, teve como ponto de partida um facto pouco considerado em outros estudos, que é o de que “a vida universitária não se resume à sala de aula e que há uma série de eventos com efeitos na vida dos estudantes”.
O estudo revela que uma grande maioria (84%) dos alunos que afirma sentir-se sozinho declara também não ter hábitos de convivência social, como sair à noite ou ir a concertos, preferindo atividades individuais como a leitura, a escrita ou a pintura.
Sobre os indicadores de bem-estar, Vítor Ferreira destacou ainda os 35,4% de alunos que admite ter sintomas de stress e ansiedade com muita frequência, com maior incidência nos alunos com notas elevadas de entrada na universidade; os 25,6% que reconhecem dificuldades de concentração recorrentes; e os mais de 50% que admitem ter dificuldades em adormecer.
Sobre os hábitos de sono, Vítor Ferreira revelou que “guardar tempo para descansar não é tão frequente quanto o desejável”, sendo que apenas 38% admitem dormir as oito horas diárias recomendadas.
No entanto, continuou o coordenador do estudo, “há uma estratégia de compensação”: 61% dos jovens dorme nove horas ou mais durante o fim de semana".
Mais de metade dos inquiridos reconhece ter piorado o estilo de vida desde a entrada para a universidade, mas quase 80% entende que a sua saúde é boa ou excelente quando comparada com a de outras pessoas da mesma idade.
Quanto à pratica de atividades desportivas, 60% dos inquiridos admite ser sedentário, e as modalidades mais frequentes são as idas ao ginásio. Apenas 13% pratica um desporto de equipa.
São também os alunos das áreas da ciência da vida que mais praticam desporto, mas também os que mais evidenciam cuidados com a alimentação.
Entre os alunos, 58% dizem preocupar-se em ter uma alimentação saudável, mas 69% considera que a sua alimentação é apenas “razoavelmente boa” para a saúde, ou seja, admitem que podiam fazer melhor. A maioria opta por almoçar em casa ou na cantina da universidade, e são 58% os que garantem que comem ‘fast-food’ menos de uma vez por semana.
Estão também em maioria os que afirmam não saltar o almoço ou o jantar (57%), mas 13% admite que não toma o pequeno-almoço três ou mais vezes por semana.
Vítor Ferreira referiu também que há uma relação entre as origens sociais mais desfavorecidas dos alunos e os piores hábitos alimentares identificados.
O estudo vai dar lugar a um relatório, no qual serão incluídas recomendações que refletem as preocupações identificadas pelos universitários, entre as quais a variedade e qualidade dos alimentos, o custo excessivo das refeições saudáveis face ao ‘fast-food’, o espaço reduzido nas universidades para quem traz refeições de casa, a prática não regular da atividade desportiva ou a associação do consumo de substâncias psicoativas ao cansaço e sono.
Os estudantes querem ainda que espaços e eventos académicos como a Queima das Fitas, normalmente associados a excessos, sejam aproveitados para passar mensagens de estilos de vida mais saudáveis.