A propósito do cada vez maior número de vespas asiáticas no continente, a Lusa ouviu ambientalistas das organizações Quercus e Zero, que estão preocupados, ainda que haja pouca informação sobre as implicações ambientais deste inseto.
No primeiro semestre do ano foram destruídos pelo menos 5.600 ninhos, segundo o Governo, especialmente no norte do país, onde começaram por ser detetados.
João Branco, da direção da Quercus, afirma que "as espécies exóticas invasoras são dos principais fatores de perda de biodiversidade, que é a diminuição do número de espécies e de indivíduos que leva à erosão genética e pode tornar espécies inviáveis. A vespa asiática é um exemplo de espécie exótica invasora".
Como Nuno Forner, da Zero, o dirigente da Quercus admite que não há um retrato da situação em Portugal, porque só há amostras da realidade a partir dos ninhos destruídos, mas avisa que esses ninhos são "uma pequena amostra", já que no interior de Portugal haverá "uma imensidão" que ninguém vê porque ninguém lá vive.
Mas não tem dúvidas que a vespa asiática está a ocupar o nicho ecológico (local onde vive uma espécie) das vespas europeias. "Para que a vespa asiática se esteja a expandir há outras espécies de vespas que estão a diminuir na mesma proporção, ou numa proporção superior".
O ambientalista nota que todas as vespas são carnívoras e as vespas europeias são importantes no controlo de larvas e insetos na agricultura, chamadas mesmo de "insetos auxiliares na agricultura". A diminuição da população põe em risco esse papel.
Além de que, adianta, a vespa asiática também está a destruir outros insetos polinizadores, algo sobre o qual pouco se sabe mas que será também importante tendo em conta que as novas vespas estão a destruir importantes populações de abelhas (se matam abelhas também matarão outros polinizadores, menos comuns).
"As grandes fontes de proteína da vespa asiática em determinada fase são as abelhas. Há uma redução na produção de mel e isso é visível em vários locais do país", diz Nuno Forner, afirmando que "o problema é real, concreto e de difícil resolução".
E é-o porque "a taxa de progressão da espécie é assustadora". Foi identificada no norte pela primeira vez e hoje já está em Lisboa e "muito em breve em todo o país". Está nas zonas urbanas e pode ter implicações na saúde, já que ataca quando se sente ameaçada, resume o ambientalista da Zero.
Forner também diz que era importante conhecer o impacto da vespa asiática na população dos insetos polinizadores. Ainda que sejam já conhecidos nas abelhas, algo que os apicultores sentem na pele.
"Numa semana destroem uma colmeia", diz Nuno Forner. E ainda que não a destruam basta que a comecem a rondar para que as abelhas deixem de sair, consumindo por isso o mel que tenham de reserva.
Para a destruição de um ninho de vespa asiática não é precisa uma semana e basta uma noite, quando estão todas juntas e é mais destrui-las. Mas os ambientalistas têm dúvidas que a estratégia esteja a resultar.
Só a título de exemplo no concelho de Viseu já foram destruídos este ano 636 ninhos de 900 denúncias, em Anadia 264 ninhos e em Tondela 300 ninhos, concelho onde morreu um homem que terá disso picado por uma vespa asiática.
No concelho de Viana do Castelo foram destruídos 2.554 ninhos desde 2012 e no mês passado parte do Parque da Pena, em Sintra, teve de ser encerrado devido a um ninho de vespas asiáticas. Dias antes, pelo mesmo motivo, já tinham sido fechados os jardins da Quinta das Conchas e dos Lilases, no Lumiar, Lisboa.
Designada cientificamente por 'Vespa velutina', a vespa asiática teve o primeiro registo em Portugal, no distrito de Viana do Castelo, em 2011, e desde aí tem-se deslocado para sul. O Governo, que este ano disponibilizou 1,4 milhões de euros para apoiar os municípios na destruição de ninhos, diz que o plano de vigilância e controlo está a ser eficaz.
João Branco discorda. E deixa mais uma acusação: Há serviços de Proteção Civil que estão a cobrar para tirar os ninhos e isso faz com que o controlo da vespa não seja tão eficaz.