Emílio Torrão, presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, fez um balanço da situação na região, na manhã desta terça-feira. Em entrevista à RTP, o autarca começou por reagir às declarações do ministro do Ambiente, Matos Fernandes, que disse ser preciso pensar em mudar as aldeias de local.
"É uma perspetiva que pode ser encarada mas é muito mais difícil mudar quem quer que seja, tirar qualquer pessoa da residência, quanto mais tirar as pessoas do seu local habitual", considerou Emílio Torrão, acrescentando que "estas pessoas já têm uma cultura de cheia e já estão habituadas a viver com este tipo de fenómenos", agora agravados pelas alterações climáticas.
"Essa é uma via de pensamento mas não é a que está, no imediato, na ordem do dia", reiterou.
Recorde-se que, no Jornal 2, da RTP2, esta segunda-feira à noite, o ministro afirmou que "vamos ter de nos adaptar àquilo que são os recursos que temos". "Aquelas aldeias sabem que estão numa zona de risco, num rio que sempre teve cheias. [...] Mas sim, paulatinamente, aquelas aldeias vão ter que ir pensando em mudar de sítio, porque não esperemos que esta capacidade que temos de dois mil metros cúbicos, que conseguimos chegar aos dois mil e duzentos, possa vir a crescer", declarou Matos Fernandes.
Quando questionado sobre os apoios à região, o presidente da Câmara foi peremptório: "A questão dos apoios é importante mas mais importante é garantir que fecham o rio no seu leito central e no periférico direito. Para nós é essencial que essas medidas sejam tomadas de imediato e, por aquilo que sei, [...] já há ordens para iniciar o estudo e os trabalhos para que muito rapidamente se possam fechar o dique e a margem".
"Para nós é essencial, para os agricultores é vital porque enquanto não fecharem estas margens colapsadas as águas vão continuar a entrar, a Proteção Civil vai ter de estar alerta e qualquer mau tempo vai provocar para as populações o medo acrescido de que estejam expostos", disse ainda.
Já sobre a reparação dos diques colapsados em dois meses, Emílio Torrão assumiu que "gostava muito" que fosse mesmo esse o 'timing': "Para já, existe uma resposta provisória para nós e não vamos abdicar disso, porque a construção definitiva vai demorar muito mais tempo. Mas uma solução provisória, ainda que seja, é imprescindível".
"É vital, essencial, imprescindível, tem de ser imediatamente acionados todos os mecanismos para, de uma forma ainda que provisória, tapar estas roturas", ressalvou.
A situação atual "é estável". "Felizmente correu bem, as decisões que foram tomadas foram assertivas, a água está a baixar ao leito central de uma forma muito franca", concluiu.
"Há décadas" que está por criar um modelo de gestão no Baixo Mondego
A Ordem dos Engenheiros criticou o facto de estar por criar "há décadas" um modelo de gestão do empreendimento do Baixo Mondego que foi concebido para o controle de cheias que afetam ciclicamente o vale.
"Desde há décadas que está por criar um modelo de gestão deste empreendimento, o que leva a que muitos usufruam e poucos contribuam para a sua conclusão, manutenção, busca de investimentos e demais responsabilidades", afirmou a Ordem dos Engenheiros, em comunicado enviado à agência Lusa.
A Ordem recordou que o empreendimento do Baixo Mondego "foi criado para o controle das cheias que sempre ocorreram e afetaram Coimbra e o Vale do Mondego", tendo para isso sido construídas as barragens da Aguieira e Raiva (no Mondego) e a barragem de Fronhas (no rio Alva).
[Notícia atualizada às 10h48]