"A saúde é um direito, sem ele nada feito" e "Pediatria no Garcia faz falta noite e dia" gritaram dezenas de utentes à frente do Ministério, pouco antes de aprovarem por "unanimidade e aclamação" um manifesto entregue ao gabinete da ministra da Saúde, Marta Temido.
Desde novembro que a urgência pediátrica deste hospital tem encerrado diariamente no período noturno, entre as 20:00 e as 8h00, devido à falta de especialistas para assegurar a escala. No entanto, a falta de pediatras já afeta o hospital há mais de um ano, quando saíram 13 profissionais.
A porta-voz da Comissão de Utentes da Saúde de Almada, Luísa Ramos, afirmou aos jornalistas que "o Ministério da Saúde e o Governo são os responsáveis por não se responder ao problema" que tem vindo a afetar as urgências pediátricas do Garcia de Orta, no distrito de Setúbal.
"Não podemos ficar à espera da burocracia. A senhora ministra e o Governo são responsáveis por não se resolver o problema e andamos nesta questão, que era provisória. Receamos que se torne definitiva", frisou Luísa Ramos.
A responsável adiantou também que as comissões de utentes ficaram "muito preocupadas" com as "discrepâncias entre as declarações" de Marta Temido e do presidente do conselho de administração do Hospital Garcia de Orta, nomeadamente quando a ministra disse que, "talvez em março", as urgências noturnas seriam reabertas, enquanto a administração hospitalar apontava como "irrealista essa abertura" no prazo previsto.
Fonte oficial do Ministério da Saúde adiantou, após a entrega do Manifesto pelos utentes, que vai fazer novo ponto de situação em reunião até final deste mês, salientando que ainda está a decorrer o procedimento concursal para cinco vagas na pediatria.
Também José Lourenço, da Comissão de Utentes do Seixal, lembrou que a alternativa encontrada com o alargamento do horário nas duas unidades de saúde em Almada e no Seixal "nunca é uma verdadeira alternativa porque não é feita por especialistas em pediatria".
"Está tudo ao molho, tudo junto", frisou, adiantando haver "um esforço enorme sobre os profissionais do agrupamento dos centros de saúde de Almada e Seixal", com listas de utentes de "1800/2000 por cada médico de família e sobrecarregados com alargamento do horário e o atendimento complementar ao fim de semana".
Segundo José Lourenço, a situação agravou-se depois de ter sido retirada aos médicos, há uns anos, "a dedicação exclusiva majorada salarialmente, assim como a progressão nas carreiras e formação por parte de seniores a novos médicos em especialistas".
"É o grande drama do Serviço Nacional de Saúde, para manter essas pessoas há que dignificar as suas carreiras", acrescentou.
Presente no protesto esteve também o presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos, que tem vindo a defender a urgência da reabertura das urgências pediátricas, afirmando que, apesar de num primeiro momento ter acreditado na ministra da Saúde, agora considera haver "falta de vontade politica".
"Não se consegue compreender como uma ministra de Estado no seculo XXI não tem condições para reabrir umas urgências pediátricas noturnas onde faltam 5/7 pediatras", afirmou, acrescentando que tal facto "mais difícil se torna quando há cruzamento de informações".
"O Garcia de Orta é uma referência, uma necessidade, não pode estar encerrado", reiterou aos jornalistas.
Paulo Pinto, enfermeiro há 29 anos, dos quais 16 na urgência pediátrica do Garcia de Orta, a unidade ainda não fechou por falta de enfermeiros porque estes "têm feito turnos extraordinários".
"É muito doloroso para nós enfermeiros. Somos cerca de 22 enfermeiros na urgência pediátrica. Neste momento, não exige [que sejam feitos] mais turnos, mas com a urgência a funcionar em condições normais fazíamos dois a três turnos extra por mês para se manter aberta", exemplificou.