O académico, diretor da Escola de Governação Transnacional no Instituto Universitário Europeu, em Florença, Itália, considera por outro lado que a UE já anunciou medidas importantes e "pode ir mais longe" em certas áreas, mas considera que "está a ser criticada por vezes um bocadinho injustamente, esquecendo-se que a União não tem uma competência direta" na saúde.
No caso da escassez de equipamentos médicos, por exemplo, depois de Bruxelas ter decidido centralizar as aquisições e limitar as exportações para assegurar as necessidades dos 27, Poiares Maduro salientou que os Estados-membros "deviam ter antecipado" as necessidades, ressalvando contudo não saber "até que ponto" isso foi feito.
"Tenho alguma preocupação, em Portugal, pelo facto de só nos últimos dias termos sabido o número de ventiladores [...] Mas a minha expectativa é que tenha sido feito um trabalho, quando o vírus começou a ser conhecido, e o risco, há dois meses, de antecipação das necessidades que o nosso sistema de saúde iria ter", explicou.
Já quanto ao encerramento de fronteiras, Poiares Maduro desvaloriza as polémicas que envolvem as decisões de alguns Estados-membros de fecharem as suas fronteiras internas e mesmo a do Conselho Europeu de reforço das fronteiras externas.
"As regras de Schengen permitem a reintrodução [de fronteiras] mesmo do ponto de vista individual aos Estados quando há situações excecionais", evocou.
Por outro lado, argumentou, "a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que o controle das fronteiras não é necessariamente mais eficaz", pelo que "o encerramento total das fronteiras nesta altura provavelmente é mais determinado por razões políticas que por razões científicas, porque às pessoas vai transmitir uma sensação de segurança".
Entre as medidas tomadas para combater o novo coronavírus, Poiares Maduro destaca o anúncio pela Comissão Europeia de que "as regras da concorrência não vão impedir [...] apoios diretos a empresas no contexto desta crise e que as regras em matéria orçamental vão dar a flexibilidade suficiente para medidas extraordinárias".
O académico não duvida de que "provavelmente" a Europa vai ter uma crise económica 2muito significativa", mas admite que, após restabelecida a normalidade, "a economia consiga recuperar bastante rapidamente".
"A prioridade fundamental da economia nesta altura deve ser assegurar que essa interrupção brutal das cadeias de produção e dos padrões de consumo não se traduz nas empresas irem à falência, na criação de emprego, nas perda de rendimento das pessoas", defendeu.
Ainda quanto à ação da UE, Poiares Maduro defende que ela pode ir mais além, em medidas de apoio económico aos Estados, "alargando, digamos, a bazuca" com o envolvimento do Banco Central Europeu (BCE), "que devia ir mais longe", "mas sobretudo em matérias em que é muito importante a cooperação entre os Estados e a cooperação entre as comunidades científicas".
"A área da ciência é uma das áreas em que a União tem mais meios para apoiar", explicou, pelo que pode, por exemplo, fazer "um concurso imediato urgente" para financiar um projeto de investigação "para combate à pandemia e a pandemias futuras".