"O objetivo é minimizar a dificuldade de acesso [ao gel desinfetante] por parte da população não ligada aos serviços de saúde. Já escasseiam as soluções e a Bairrada, com forte tradição na produção de derivados vinícolas, estaria disposta a ceder a matéria-prima para posterior destilação", revela a farmacêutica Mafalda Melo.
Responsável por uma farmácia na Mealhada, Mafalda Melo relata que o projeto nasceu de conversas com profissionais de saúde ligados à Unidade de Saúde Familiar local.
"É uma ideia transversal a enfermeiros e farmacêuticos. A proximidade aos produtores é grande e eles questionam-nos sobre essa eventual possibilidade", relata.
Um apelo lançado nas redes sociais pelo diretor da revista 'A Lei do Vinho', Miguel Ferreira, teve o efeito de juntar alguns produtores de vinhos na Bairrada e proprietários de destilarias em torno do projeto.
"A Unidade de Saúde da Mealhada contactou as farmácias locais no sentido de se criar uma equipa de trabalho para produzir álcool gel a partir de aguardente vínica. Para tal, necessitam com urgência de espaços de destilação, onde o produto possa ser produzido", apelou Miguel Ferreira.
O enólogo Mário Sérgio Nuno foi o primeiro a disponibilizar as duas destilarias onde produz os seus vinhos, nomeadamente o espumante Quinta das Bágeiras.
Também Pedro Carvalho, proprietário de uma das maiores destilarias nacionais, a Levira, aderiu ao projeto, embora advertindo que há melhores produtos que aguardente vínica para transformar em gel desinfetante, sugerindo antes "vinhos "fracos" e aguardentes fracas" doados pelos produtores da Bairrada.
A destilaria Levira já tem experiência na área, tendo um acordo com a Super Bock para converter o álcool de produção de cerveja em gel desinfetante utilizado para fazer face à pandemia de covid-19.
De acordo com um comunicado do grupo Super Bock, divulgado na semana passada, o gel desinfetante para as mãos será oferecido a três unidades hospitalares da região do Porto.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 324 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 14.300 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro de 2019, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, há 14 mortes e 1.600 infeções confirmadas.
Portugal encontra-se em estado de emergência desde as 00h00 de quinta-feira e até às 23h59 de 2 de abril.
Além disso, o Governo declarou na terça-feira o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.