"Não podemos ter esta falsa sensação de segurança por via de utilização das máscaras, porque a falta de cultura da população de utilização e uso regular das máscaras pode proporcionar alguns momentos na aplicação e na remoção das máscaras que poderão facilitar a disseminação e a propagação do vírus", adiantou.
Tiago Lopes falava, em Angra do Heroísmo, no ponto de situação diário sobre a evolução do surto de covid-19 no arquipélago.
O Governo Regional dos Açores anunciou hoje que iria distribuir cerca de 270 mil máscaras sociais, fabricadas na região, por todos os domicílios do arquipélago, a partir da próxima semana.
Questionado no passado fim de semana pelos jornalistas, Tiago Lopes defendeu que a utilização generalizada de máscaras cirúrgicas não seria "das medidas mais eficazes" para combater a covid-19, alegando que a sua má utilização poderia desencadear "um novo foco de contágio".
Confrontado hoje com estas declarações, o responsável da Autoridade de Saúde Regional reiterou que as máscaras cirúrgicas e as máscaras "bico de pato" "não são recomendadas para utilização de forma generalizada pela população", mas admitiu que existem estudos que indicam que a utilização de outras máscaras pode "salvaguardar alguma propagação ou disseminação da infeção de âmbito comunitário".
"Pese embora possa não existir evidência científica sólida e consolidada da mais-valia da utilização deste tipo de proteção facial e nasal, a verdade é que havendo essa possibilidade e tendo sido publicadas orientações técnicas da DGS [Direção-Geral da Saúde], do Infarmed, do IPQ [Instituto Português de Qualidade] e da ASAE [Autoridade de Segurança Alimentar e Económica], e havendo a possibilidade do seu fabrico a nível regional, porque não? Mal não faz, nesse sentido vamos aplicar a distribuir pela população", afirmou.
Tiago Lopes sublinhou, no entanto, que não há "evidência científica suficiente" para recomendar o uso "generalizado" de máscaras, alegando que "devem ser utilizadas sobretudo em espaços interiores fechados e onde se encontrem várias pessoas".
O responsável da Autoridade de Saúde Regional insistiu, ainda assim, na necessidade de se manterem as medidas recomendadas de distanciamento social
"Não é por serem disponibilizadas máscaras que devem voltar à livre circulação e à livre interação social", frisou.
Segundo Tiago Lopes, em algumas ilhas já se começa a notar maior circulação nas estradas, mas a população não deve "descurar" a quarentena voluntária.
"Sei que é extremamente difícil mantermos este período de distanciamento social e os dados apontam, fora a ilha de São Miguel, para que as coisas estejam mais estáveis, ao longo das últimas semanas, mas não nos podemos iludir e temos de manter o máximo possível, durante mais alguns dias e algumas semanas, esse distanciamento social", apelou.
As delegações de saúde estão mesmo a recomendar o prolongamento da quarentena decretada a quem chega de fora da ilha ou teve contacto próximo com casos positivos e, em algumas situações, esse período de isolamento pode chegar aos 28 dias.
"Normalmente, a delegação de saúde determina um período de quarentena inicial de 14 dias, que pode ser prorrogado por igual período, mantendo as mesmas condições ao nível remuneratório, para não haver qualquer tipo de penalização, sendo que durante esse período a delegação de saúde, da avaliação que vai fazendo e da vigilância que vai mantendo, pode determinar esse levantamento", apontou o responsável da Autoridade de Saúde Regional.
O prolongamento depende da avaliação feita pelas delegações de saúde, mas Tiago Lopes reconheceu que no caso dos profissionais de saúde as cautelas são "um pouco mais excessivas".
Desde o início do surto foram confirmados 105 casos de covid-19 nos Açores, 86 dos quais estão ativos, tendo ocorrido 11 recuperações (seis na Terceira, quatro em São Miguel, três em São Jorge e uma no Pico) e cinco mortes (em São Miguel).
A ilha de São Miguel é a que registou mais casos até ao momento (68), seguindo-se Terceira (11), Pico (10), São Jorge (sete), Faial (cinco) e Graciosa (quatro).