Tal como milhares de portugueses, Sónia Ell, que é diretora de uma joalharia de luxo em Lisboa, viu a sua vida ficar em stand-by em meados de março, devido à pandemia da Covid-19.
Com tanto tempo livre, “estava fora de questão olhar a guerra confortavelmente a partir da janela”, conta ao Notícias ao Minuto. Por isso, investigou em que frente da batalha poderia ajudar nesta guerra e rapidamente concluiu que faltavam máscaras em várias instituições.
“Procurei na internet, fiz vários telefonemas e descobri chocada que os valores eram absurdamente proibitivos numa época em que deveria ser o oposto. Lá consegui descobrir um ponto de venda com valores de máscaras homologadas minimamente aceitáveis e ofereci-as a uma esquadra em Lisboa. A partir daqui não consegui descobrir mais opções aceitáveis no mercado”, diz.
Foi então que se lembrou que "se calhar" podia costurar máscaras. Voltou ao computador e às pesquisas online e descobriu Carlos Valeriano, um professor de costura da Lourinhã que ensinava a fazer máscaras caseiras no YouTube, e uma rede local de costureiras voluntárias, que tinham conseguido suprimir as necessidades do respetivo concelho em termos de instituições hospitalares e IPSS. “Aqui estava uma possível solução que tanto tinha procurado! Já alguém tinha tido a mesma ideia!”, comenta.
Sónia contactou Carlos e este partilhou com ela “todas as indicações, regras de segurança na execução das máscaras, que material específico seria necessário, bem como contactos de fornecedores”. Durante este processo, passaram à empresária o contacto da Raquel Rodrigues, que também estava interessada em ajudar. “O plano era assim replicar em Lisboa o que estava a ser feito na região Oeste”, revela.
Os primeiros materiais foram trazidos pela Raquel da Lourinhã para Lisboa, com investimentos das duas e dos amigos da primeira e, a pouco e pouco, conta Sónia, “a rede de costureiras-soldado foi-se formando nas fileiras!”
E assim, os dias de pandemia desocupados de Sónia, passaram a ter um horário de turno fabril. A madrinha corta o tecido e a empresária cose os elásticos. Em poucos dias, passaram de produzir quatro máscaras por hora para 10.
Entretanto, mais costureiras alistaram-se voluntariamente neste projeto de solidariedade e, aquilo que era para ser só em Lisboa, já estava de repente a chegar de Norte a Sul, de Este a Oeste e ainda a algumas ilhas dos Açores.
Entre os que compram os materiais, os que cortam, os que costuram e os responsáveis pela distribuição, são mais de 60 voluntários que já conseguiram ajudar 170 instituições com mais de 9 mil máscaras reutilizáveis e impermeáveis.
“Este equipamento de proteção individual é sempre entregue acompanhado de instruções de utilização, em que se salienta a necessidade de seguir todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Direção-Geral da Saúde (DGS), que não podem ser descuradas nunca - higienização das mãos antes da colocação da máscara, distanciamento social, etc – de forma a não se atribuir uma falsa sensação de segurança durante o seu uso”, esclarece Sónia.
E qual é o valor das máscaras? São gratuitas. “O verdadeiro valor destas máscaras é o sentimento de dever cumprido, e isso não tem valor”, diz Sónia ao Notícias ao Minuto.
Quem quiser juntar-se a esta rede de voluntários pode contactar a Sónia através da sua página de Facebook. “Não se aceita dinheiro. Aceita-se sim material e quem souber costurar”, sublinha esta nova ‘costureira’.