O estudo conduzido por Jorge Bravo e Afshin Ashofteh, publicado na revista Statistical Journal, mostra "imprecisões significativas" quando compara as bases de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Centro Europeu para o Controlo e Prevenção de Doenças e do Centro Chinês para o Controlo e Prevenção de Doenças, como noticiou no domingo o jornal Público.
A análise foi feita "desde o início da pandemia, até meados de abril", e os investigadores pretendem "fazer um acompanhamento de seguimento do estudo inicial", adiantou Jorge Bravo à Lusa, acrescentando acreditar que as instituições em causa "leiam estes resultados e vão tentando aprender com o que está a acontecer".
"Tenho a certeza de que os organismos oficiais de estatística, que têm autonomia face ao poder político, estão mais do que nunca conscientes da importância da informação oficial ser transparente, oportuna e credível. Dos nossos contactos com a revista que publicou o estudo, uma coisa ficou clara para eles: é cada vez mais importante que a informação oficial, validada e com protocolos, tem de se sobrepor à outra informação que vai circulando por estes dias", prosseguiu.
Para o investigador do Instituto Superior de Estatística e Gestão da Informação da Universidade Nova de Lisboa, "um dos problemas na fase inicial da pandemia foi muita desinformação e notícias falsas".
"O que os organismos oficiais de estatística chamam epidemia do medo, ou seja, no fundo, a criação de factos artificiais de informação sem correspondência com a realidade, isto alertou os organismos para a importância de eles próprios assumirem um papel ainda mais importante e entrarem nas novas tecnologias, encontrarem outras formas de fazerem chegar a informação estatística oficial aos cidadãos", considerou.
Apesar de não ter estudado o fenómeno em Portugal, Jorge Bravo aponta para "uma tradição dos organismos públicos [portugueses], em particular com o atual Governo, de muito pouca transparência na divulgação e na informação sobre todas as eventualidades, não apenas quanto à pandemia".
"Vamos apenas acompanhando a pouca informação que é divulgada, mas a convicção que toda a gente tem na comunidade científica é que a DGS [Direção-Geral da Saúde] não estava preparada para fazer, no fundo, este trabalho rigoroso e em tempo oportuno, de acompanhamento da pandemia, e que os erros que foram sendo cometidos, alguns terão sido corrigidos, mas ainda há dados a ser divulgados que não estão totalmente corretos", concretizou.
O problema português é o mesmo que aponta para os outros países: a validação de dados.
"Não basta ter um sistema em que alguém introduz uns dados, é preciso garantir que os dados são corretos. (...) Se é preciso, por exemplo, monitorizar o tempo de quarentena das pessoas, a informação tem de ser rigorosa. Para traçar o perfil das pessoas mais expostas ao risco, é preciso perceber as características socioeconómicas, dados de saúde. A informação tem de ser introduzida de forma precisa, se não é muito fácil tirar conclusões erradas", defendeu.
Jorge Bravo acredita "que a DGS estará a aprender", mas reitera que o "problema de pouca transparência e da capacidade interna para analisar e processar informação é generalizado a muitos organismos em Portugal ligados ao sistema estatístico".
"Aqui tem uma importância acrescida", concluiu.