De visita à Feira do Livro, que se realiza este ano pela primeira vez em agosto devido à pandemia da Covid-19, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de responder às perguntas dos jornalistas sobre uma, eventual, "crise política" e falta de entendimento quanto ao Orçamento de Estado de 2021.
"Temos de trabalhar em conjunto. Seremos sempre poucos para este desafio", salientou, aproveitando para deixar claro que não vai dissolver o Parlamento numa altura em que se luta contra uma pandemia e se vive em situação de crise económica.
"Há necessidade de haver diálogo entre os partidos. O Presidente da República não vai alinhar em crises políticas. Portanto, desenganem-se os que pensam que se não houver um esforço de entendimento, vai haver dissolução do Parlamento no curto espaço de tempo que o Presidente tem pela frente para isso, que é até ao dia 8 de setembro", avisou o Presidente da República.
Ainda sobre o mesmo assunto, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que "não passou um ano sobre a última eleição legislativa" e aproveitou para fazer um paralelismo com a Feira do Livro, que abriu ao público esta quinta-feira.
"Uma crise política ou ameaça de crise política é ficção, é para romances, e romances são na Feira do Livro. Em cima da crise da saúde e da crise social ter uma crise política, seria uma aventura” (Marcelo Rebelo de Sousa)
O chefe de Estado revelou que irá receber os partidos com representação parlamentar quando houver uma proposta de lei de Orçamento do Estado para 2021 e aconselhou-os a "dialogarem, falarem, ver como é que se viabiliza um Orçamento que é fundamental para a utilização dos fundos que vêm de Bruxelas, para o plano de recuperação que é tão necessário".
"Naturalmente que pluralismo é pluralismo, ninguém é obrigado a violentar a sua consciência, mas são todos [os partidos] obrigados a pensar no interesse nacional", defendeu o chefe de Estado.
Tensão prejudica o combate? "Precisamos de estar todos de mãos dadas".
Antes de ser abordado sobre o tema OE2021, o Presidente da República foi questionado sobre a polémica entre o Governo e os médicos, na sequência do caso do lar de Reguengos de Monsaraz, onde morreram 18 pessoas. O Presidente Marcelo não respondeu se esta "tensão" prejudica o combate, mas fez questão de frisar que "precisamos de estar todos de mãos dadas".
"Entendo que temos de estar todos unidos. Aquilo que temos vivido e que ainda vamos viver exige uma grande convergência de esforços e essa convergência de esforços explica porque é que o Governo entende fazer uma sessão com abertura aos portugueses e explica o regime de Contingência (...) E dessa convergência deve fazer também parte o Governo e os profissionais de saúde e, de entre os profissionais de saúde, os médicos, eles que foram alguns dos heróis desta saga, sempre o disse e sempre o direi. Os portugueses não perdoariam se estivessem de costas viradas uns para os outros. Eu prefiro olhar para o lado positivo das coisas e precisamos de estar todos de mãos dadas. Nem o Estado consegue resolver o problema da pandemia sem os profissionais de saúde, nem os profissionais de saúde conseguem fazer o que têm feito, de uma forma extraordinária, sem o apoio do Estado", defendeu.
Ainda sobre os lares de idosos, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que, neste momento, "é preciso reforçar a coordenação entre os Ministérios da Segurança Social e da Saúde".
Estado de Contigência representa retrocesso? "Temos de prevenir"
Sobre o regresso do país ao Estado de Contingência a partir de 15 de setembro, anunciado hoje pelo Governo, Marcelo Rebelo de Sousa afastou a ideia desta medida representar um retrocesso. Para o chefe de Estado é um reforço necessário "com fins preventivos", perante o começo das aulas, a entrada de mais turistas e o regresso das diversas atividades desportivas.
"Temos de prevenir. Vamos ter regresso de férias, vamos ter entrada de turistas, vamos ter o começo de ano letivo e recomeço de atividades desportivas, das mais variadas. Não é tudo ao mesmo tempo, mas estes recomeços concentram-se entre o final de agosto e o início de setembro e, por isso, o Governo entendeu e deu conhecimento ao Presidente da Republica, antecipadamente, ter duas iniciativas. Uma é, a partir do dia 15 de setembro, elevar um pouco o regime da disciplina sanitária, com fins preventivos, a todo o território nacional. O segundo foi realizar uma sessão, no próximo dia 7, aberta na parte em que os especialistas explicam a situação previsível para o outono/inverno", anunciou.
Iniciativas estas que, de acordo com o Chefe de Estado, servem para "sensibilizar os portugueses para este somatório de fatores, que é novo, e que pode ter ou não efeitos na evolução da pandemia".