"Trata-se de uma ferramenta de apoio à decisão, assente num conjunto de modelos matemáticos de previsão da trajetória que o agente nocivo, seja ele qual for, vai tomar à superfície do oceano, em função das condições meteo-oceanográficas e que vai permitir atuar com mais precisão", explicou hoje o comandante Carlos Fernandes.
Em declarações à agência Lusa, a propósito da apresentação, em Caminha, no distrito de Viana do Castelo, das conclusões do exercício virtual 'Oil Spill', que começou na segunda-feira e termina na sexta-feira, o chefe da divisão Oceanográfica do Instituto Hidrográfico (IH) da Marinha apontou o naufrágio do petroleiro Prestige, ao largo da Galiza, em novembro de 2002, como exemplo da importância da nova ferramenta.
"Quando as manchas de petróleo derramado pelo Prestige surgiram à superfície, os governos de Portugal e Espanha precisavam de saber para onde se dirigiam para poderem atuar. A nova ferramenta de decisão que estamos a preparar, assente em novos modelos matemáticos, vai permitir fazer previsões [da trajetória do produto] com mais precisão", especificou o comandante Carlos Fernandes.
A nova solução "permite uma otimização de meios e recursos no combate ao agente nocivo, mas principalmente na prevenção, permitindo o desenho de diferentes cenários antecipadamente".
O exercício virtual 'Oil Spill' está a decorrer na zona costeira entre Vigo e Leixões (Matosinhos, Porto) e é promovido pelo Instituto Hidrográfico (IH) da Marinha, em parceria com o Instituto Tecnológico para o Controlo do Meio Marinho da Galiza (INTECMAR) e o Centro Tecnológico do Mar de Vigo (CETMAR).
A criação desta ferramenta é uma das principais conclusões do exercício, que foram esta manhã apresentadas publicamente no salão nobre da Câmara de Caminha.
A nova "ferramenta de apoio à decisão", a apresentar "no verão de 2021", resulta dos projetos internacionais MELOA, RADAR-ON-RAIA e MYCOAST, financiados por fundos comunitários de programas de cooperação transfronteiriça (INTERREG e POCTEP) que contribuem para potenciar as infraestruturas de observação e desenvolvimento de produtos para apoio à comunidade científica e população em geral".
"O projeto MELOA envolve parceiros de Portugal, Espanha, Irlanda e França, o RADAR-ON-RAIA é desenvolvido por entidades portuguesas e espanholas e o MYCOAST envolve mais de 14 parceiros de diferentes países. Através da conjugação das ações dos três projetos, será possível comparar e validar as previsões de deriva dos agentes poluentes", explicou Carlos Fernandes.
Os três projetos, "que atuam no Norte de Portugal, garantem uma conjugação de esforços que permite integrar o desenvolvimento de meios para observação e disseminação de informação, gerando novos produtos através da experiência dos parceiros envolvidos nos diferentes observatórios oceanográficos costeiros, no Arco Atlântico".
"O financiamento dos três projetos termina em meados de 2021 e, nessa altura, teremos de ter uma ferramenta de apoio à decisão robusta, testada e validada que possa ser utilizada em caso de acidente ou como prevenção de riscos e que possamos apresentar às entidades competentes que gerem a mitigação de riscos da costa portuguesa", referiu.
O comandante Carlos Fernandes acrescentou que "os projetos estão a ser afinados com a informação recolhida neste exercício, mas o objetivo final é produzir uma nova ferramenta que vai substituir as que estão a ser, atualmente, utilizadas".
A recolha de informação "vai permitir criar novas ferramentas de apoio à decisão que os parceiros de cada país envolvido integrarão nos seus sistemas de previsão", disse.
Segundo aquela responsável, "o Norte de Portugal e a Galiza, dada a forte pressão antropogénica aliada à elevada atividade e tráfego marítimo, são zonas de elevado risco e de potenciais derrames de matérias perigosas".
"É essencial a realização de simulações e exercícios que permitiram acautelar, monitorizar e mitigar riscos de potenciais catástrofes através do desenvolvimento de ferramentas de apoio à decisão", referiu.
Este exercício transfronteiriço "tem como objetivo operacionalizar esse tipo de ferramentas utilizando vários tipos de boias derivantes lançadas a diferentes distâncias de costa, todas elas isentas à ação do vento de modo a seguirem exclusivamente a corrente superficial local".
As boias derivantes "transmitem as suas posições em tempo real alimentando os modelos matemáticos de previsão construídos por cima de várias camadas de informação, como por exemplo a batimetria de elevada resolução recolhida pelo IH", concluiu.
O principal objetivo "é comparar a trajetória real com a prevista pelos modelos, e perceber que ajustes devem ser feitos".