"Os tempos que correm e se aproximam são extremamente difíceis, porque além das pessoas frequentarem menos os restaurantes e haver menos gente na rua, estas medidas mais drásticas ainda vão piorar mais a situação", anteviu Álvaro Tomás, proprietário do restaurante Bijou.
O empresário, que preside à Associação Bairro Novo (reúne restaurantes, comércio e serviços do Bairro Novo, a zona turística junto ao Casino) não augura "grande futuro em termos de restauração e de comércio local, se isto se prolongar por muito mais tempo".
Álvaro Tomás considera "muito discutível a opção de encerrar os estabelecimentos às 13:00, sem dar a possibilidade de se trabalhar, pelo menos, os almoços, e de as pessoas não se poderem deslocar aos restaurantes depois das 13:00 para o 'take way'".
"Penso que há uma dualidade de critérios relativamente a outras situações. No fundo, mandam-nos encerrar e não nos deixam muitas alternativas", salientou o dono do restaurante Bijou, que emprega nove pessoas.
"Com a conjuntura atual, o futuro não é muito risonho, a não ser que haja contrapartidas e ajudas estatais para ver se realmente nos poderemos aguentar o máximo possível", frisou.
Para Isabel João Brites, proprietária do restaurante Picadeiro, que emprega seis pessoas, o recolher obrigatório às 13:00 "é uma machadada brutal na faturação, porque sítios como a Figueira da Foz vivem essencialmente de fins de semana nos meses fora do verão".
"Servir refeições até às 13:00 é a mesma coisa que não abrir, porque ninguém vem almoçar antes dessa hora", enfatizou.
A empresária mostra-se "espantada" que as áreas de restauração dos centros comerciais estejam abertas, com possibilidade de ajuntamentos, enquanto o comércio na cidade tem de fechar depois das 13:00, criticando o que considera ser "duas medidas para um só setor".
"A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares (AHRESP) e a Federação das Câmaras de Comércio e Indústria apresentaram um documento ao primeiro-ministro no sentido de se pronunciar sobre essa questão, porque não pode haver dois pesos e duas medidas, quando o objetivo é travar ou achatar a curva desta pandemia", defendeu Isabel João Brites.
Perante o atual cenário, o restaurante "Teimoso", um dos mais emblemáticos da "praia da claridade", com capacidade para 300 pessoas, vai fechar temporariamente a partir de sexta-feira, após quase um ano em que registou uma quebra de faturação entre os 50 a 60%.
"Nos meses de verão, trabalhámos a 70% do normal, o que não nos permite sequer continuar a trabalhar. Desde setembro até agora, estivemos a pagar salários sem fazer dinheiro sequer para os pagar", desabafou o responsável do restaurante, António Sanchez.
O empresário queixa-se de o Governo não "deixa trabalhar", pelo que "é impossível aguentar esta situação".
"Falam em apoios, mas ninguém ouve falar de nada, ninguém sabe de nada e a situação, da maneira que está, é insustentável, pelo que estar a contrair empréstimos para estar a pagar salários, não é viável", sublinhou.
"Se existem exceções para ir ao supermercado, acho que, no mínimo, poderia haver uma exceção para ir ao restaurante. Eu estou a falar, porque tenho aqui uma casa com capacidade para 300 pessoas, onde gastei mais de seis mil euros a fazer divisórias entre as mesas para ter condições de segurança para trabalhar".
Para Graça Mortágua, proprietária do restaurante Caçarola I, na rua lateral ao Casino da Figueira da Foz, o fecho às 13:00 "é um absurdo para toda a gente, porque para fechar a essa hora mais vale estar fechado o dia todo, já que não faz sentido abrir para servir almoços das 12:00 às 12:30".
"O Governo nem permite que os clientes venham ao restaurante buscar comida, pois se quisermos temos de ser nós a ir levar ao cliente. Não sei até que ponto é que vai compensar, mas pelo menos vamos tentar levar a refeição até aos clientes habituais", adiantou.
A empresária defende que, "pelo menos", deviam poder abrir até às 15:00 e que, se não existirem apoios, "não há restaurante nenhum que vá resistir" à atual situação.
"Temos 15 funcionários que sustentam as famílias com os salários daqui. Em 44 anos de restaurante, felizmente sempre consegui pagar os impostos e ter tudo em dia, mas daqui para a frente temo muito pelo que vai acontecer a mim e aos meus funcionários", frisou Graça Mortágua.
"Se o Governo der algum apoio estou a tentar aguentar os meus funcionários sem haver despedimentos, mas isto é tudo muito incerto e estamos todos apavorados", acrescentou.
O Governo anunciou o recolher obrigatório entre as 23:00 e as 05:00 nos dias de semana, a partir de segunda-feira e até 23 de novembro, nos 121 municípios mais afetados pela pandemia, entre eles o da Figueira da Foz, sendo que, ao fim de semana, o recolher obrigatório inicia-se a partir das 13:00 nos mesmos 121 concelhos.