"O desgaste físico, psicológico e emocional deste ano foi enorme para esta direção. Os riscos e os perigos da pandemia são enormes, não é tempo de disputas eleitorais", refere José Moura, na carta em que dá conta da sua decisão ao Conselho Geral e a que a Lusa teve hoje acesso.
José Moura, na liderança desta instituição do distrito do Porto desde 1991, entregou a sua recandidatura a 11 de novembro, mas decidiu retirá-la depois de, na semana passada, se apresentar a eleições uma segunda lista encabeçada por António Bessa que, em 2017, se despediu do cargo de vice-presidente por não concordar com "algumas coisas que lá se passavam".
As eleições para o mandato 2021/2024 estão agendadas para 18 de dezembro.
"Este ano, assumindo que, mais uma vez, nenhuma alternativa se apresentaria, entregámos a nossa candidatura, de modo a que as nossas responsabilidades não fossem deixadas ao acaso e não se confrontasse a instituição com um vazio cujo ónus recairia certamente para nós", justificou, na missiva, lembrando que a falta de alternativas motivou, nas duas últimas eleições, a sua recandidatura.
Mas, constatando que a 16 de novembro outra lista entrou nos serviços, decidiu retirar a sua, explicou José Moura.
O atual presidente fala em quase 30 anos de "árduo trabalho", sublinhando que este último ano, em que surgiu a pandemia de covid-19, exigiu uma "força e resiliência que ninguém pode imaginar".
"Fruto da boa e constante gestão que levámos a cabo, pudemos responder à crise do coronavírus e contratar recursos extraordinários que nos permitiram controlar a pandemia que ameaçava dizimar os nossos utentes", frisou.
Para José Moura, "foram e são tempos muito perigosos".
O ainda presidente garantiu deixar a instituição com "estabilidade económica e financeira".
A 19 de outubro foi divulgado um relatório da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados (CDHOA), segundo o qual tinham sido detetados indícios de "violação grave" de direitos humanos no Lar do Comércio e o "incumprimento reiterado" de orientações recebidas em vistorias.
Depois de o Ministério Público instaurar um inquérito à instituição, fonte do próprio Lar do Comércio disse, em 02 de outubro, à agência Lusa que uma diretora técnica da instituição foi constituída arguida.
Acrescentou que a própria instituição não foi constituída arguida no inquérito criminal em curso no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Matosinhos, mas admitiu que dirigentes do lar venham a ser ouvidos pelo procurador.