O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, novo coordenador da task-force responsável pelo Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, afirmou, esta terça-feira, que a imunidade de grupo em Portugal só será atingida no final do verão.
"Julgo que um verão normal não teremos, porque o processo de vacinação ainda não estará na fase de imunidade grupo", disse o militar, esta noite, em entrevista à TVI.
Contudo, o vice-almirante admitiu que "há a expectativa de no Natal termos praticamente toda a população vacinada", caso não haja mais atrasos por parte das farmacêuticas nas entregas das vacinas contra o novo vírus.
"Foram contratualizados quatro milhões de vacinas no primeiro trimestre e vieram dois milhões de vacinas", adiantou ainda, explicando que os atrasos referem-se aos dois primeiros trimestres do ano.
Quantos aos critérios do plano de vacinação, o responsável sublinhou que, neste momento, não faz sentido "mudar as prioridades porque não há vacinas".
"Há estudos científicos que dizem que atacar comorbilidades salva mais pessoas do que atacar por faixas etárias", argumentou.
AstraZeneca para maiores de 65? "Esse cenário existe sempre"
Questionado sobre se a vacina da AstraZeneca pode ser administrada a pessoas com mais de 65 anos no país, o coordenador esclareceu que "esse cenário existe sempre", recordando que a Direção-Geral da Saúde (DGS) não disse que esta era "não era uma vacina indicada".
O vice-almirante sublinhou que a administração da vacina em causa foi aprovada para pessoas com mais 18 anos pelo regulador europeu (Agência Europeia do Medicamento) e que o que tem acontecido é que há países que têm considerado que os ensaios não incluíram uma amostra de pessoas suficientes com mais de 65 anos para comprovar a eficácia da vacina nesta população.
"Essa dúvida está a ser tirada na realidade, porque [a vacina] está a ser aplicada no Reino Unido e nos EUA sem restrições", referiu Gouveia e Melo, acrescentando que, ainda assim, num futuro próximo, não está prevista a administração da vacina da AstraZeneca em pessoas acima dos 65 anos em Portugal.
Período entre toma da primeira e segunda dose poderá ser alargado
No que diz respeito ao período estipulado entre a toma das duas doses da vacina (21 dias), o responsável revelou que alargamento deste prazo pode ser "uma solução possível" para acelerar o processo de vacinação, levando a que mais pessoas recebam a primeira dose mais depressa.
Apesar de, até ao momento, ser recomendado os 21 dias, o novo coordenador denotou que, de acordo com estudos, "não há nenhum problema" se a segunda dose for tomada mais tarde "em termos dos efeitos gerados nos anticorpos".
"Eventualmente, é uma solução que pode ser adotada. Neste momento, Portugal e outros países da Europa ainda não adotaram essa solução, enquanto outros adotaram essa solução", recordou, num momento em que o Reino Unido e a Dinamarca, por exemplo, já permitem um maior período entre a administração das doses.
"Cerca de 900 mil pessoas" estão a ser convocadas
Sobre a presente fase de vacinação - na qual estão a ser vacinados idosos com mais de 80 anos e pessoas com mais de 50 anos com patologias associadas -, o vice-almirante garantiu que estão a ser convocadas "cerca de 900 mil pessoas" através de SMS. "Se [a mensagem] não resultar [a convocação] será por telefone e se não resultar será por carta", afirmou, acrescentando que esses meios não forem suficientes será ainda criada uma plataforma de inscrição para a vacinação.
No segundo trimestre deste ano, Gouveia e Melo revelou também que é esperado que sejam dadas "cerca de 81 mil vacinas por dia", quase o quádruplo do presente ritmo de vacinação no país, que se encontra em média nas "22 mil vacinas por dia".
Para garantir este número, o responsável assumiu que terão de ser encontradas soluções, havendo várias ideias em cima da mesa, como a criação de centros de vacinação massiva ou até alargar o processo às farmácias. Ainda assim, informou, Portugal conta, atualmente, com 910 postos de vacinação prontos a atuar, nos centros de saúde, número que poderá ser alargado para 1.200 postos.
"Como militar, o que posso dizer é que um bom treino ajuda à boa execução. Nós já estamos a treinar isso", atirou.
O objetivo, adiantou ainda o militar, é atingir eventualmente a administração "entre 100 e 150 vacinas por dia e nos fins de semana duplicar isso".
Uso indevido de vacinas? "Vamos fazer tudo para que isto não aconteça"
Quanto aos casos que têm sido reportados de uso indevido das sobras das vacinas, Gouveia e Melo começou por lembrar que "mesmo com pessoas de bem há sempre abusos", mas, contudo, prometeu tolerância zero para estas situações.
"[O uso indevido das vacinas] Mina a confiança, mas não tem significado estatístico. Qualquer caso é mau. Quem abuse de uma situação de privilégio é criticável, condenável e não deve fazer isso (..) Vamos fazer tudo para que isto não aconteça", apontou.
Denotando ainda sobre esta matéria que "a DGS fez hoje uma mudança do regulamento, fechando a capacidade interpretativa do regulamento, o vice-almirante esclareceu que "em cada mil vacinas administradas houve uma que não cumpriu com as regras".
"Não julgo que teremos mais casos, teremos é a investigação [destas situações]. (...) Isto vai ser perseguido até ao limite das nossas possibilidades", referiu.
Em Portugal, morreram 14.557 pessoas dos 770.502 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde. A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Leia Também: AO MINUTO: Doente transferido para Madeira morreu; 353 casos nas cadeias