Na sua intervenção na reunião no Infarmed, em Lisboa, sobre a situação epidemiológica da covid-19, Henrique Barros afirmou que a pandemia deu algumas "lições aprendidas para o futuro próximo" baseado numa análise do que tem acontecido no mundo.
"A incidência de ocorrência de novos casos, internamentos, bem como as suas taxas de crescimento explicam o passado e fornecem um excelente quadro racional para a tomada de decisão no futuro", salientou.
Para o presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, é preciso definir o que preocupa, nomeadamente as mortes e as formas "longas de infeção", as que deixam sequelas e que podem afetar todas as idades e, por isso, devem ser "uma preocupação enorme na diminuição dos casos".
"Para atuar é essencial ter melhor conhecimento possível, não chega ter informação, e a capacidade de saber quando atuar decorre daí", defendeu na reunião que juntou especialistas de saúde pública, membros do Governo e o Presidente da República.
Analisando o que aconteceu em Portugal nas primeiras semanas de janeiro, o que induziu a subida de casos, o papel do Natal, e no resto da Europa, Henrique Barros afirmou que se encontrou um "pico na mesma altura".
Segundo o investigador, observou-se "uma imagem muito semelhante" em toda a Europa e nos Estados Unidos, onde houve "uma enorme carga de infeção" nas duas primeiras semanas de janeiro.
Mas também se observou um maior número de casos no Hemisfério Sul, na América Central e na América do Sul, onde se verificou "um pico despropositado na mesma altura".
"Claro que os valores de incidência são diferentes, mas o que nos importa aqui é a concordância, o movimento da infeção", comentou.
Mesmo na Ásia, onde os casos vinham a descer, sobem nestas semanas iniciais de janeiro, e até na Oceânia com "a sua curva epidémica muito particular e com os seus números baixo também tem um pico exatamente nesta mesma altura".
"Isto leva-nos a fazer pensar que é preciso verdadeiramente conhecer e compreender o que se passa. Não nos podemos bastar com explicações às vezes excessivamente rápidas", vincou.
Para o epidemiologista, é importante outras formas de decidir que não simplesmente as descrições ou os indicadores de natureza quantitativa epidemiológica.
"Precisamos ter controle da transmissão do vírus, capacidade de identificar as infeções e agir em conformidade, minimizar riscos de surtos, garantir medidas nos locais apropriados e definir a forma de contrariar a importação de casos", sublinhou.
Mas também é "muito importante" garantir que as pessoas tenham educação para a saúde: "não há conhecimento da infeção sem diagnóstico, sobretudo, em sociedades desenvolvidas".
Por outro lado, observou que "a redução a metade da infeção é muito mais rápida do que o tempo de redução a metade do conjunto de testes", o que deixa perceber que "não é por causa de diminuir os testes que diminui a infeção".
Para Henrique Barros, outro ponto fundamental em todas estas decisões é a mobilidade, afirmando que "existe uma relação razoável, não perfeita, entre as diminuições da mobilidade e a incidência média dos casos na Europa".
A covid-19 já matou em Portugal 16.023 pessoas dos 798.074 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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