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Testemunha corrobora que um inspetores tinha um pé na nuca de Ihor

O segurança Manuel Correia testemunhou hoje que "ouviu gritos" de Ihor Homeniuk vindos de uma sala do SEF no aeroporto de Lisboa e que encontrou um dos inspetores com um pé em cima da nuca do passageiro ucraniano.

Testemunha corrobora que um inspetores tinha um pé na nuca de Ihor
Notícias ao Minuto

18:51 - 24/02/21 por Lusa

País Ihor Homeniuk

Esta segunda testemunha e vigilante a ser inquirido hoje no julgamento em Lisboa de três inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) acusados de homicídio qualificado de Ihor Homeniuk confirmou que os inspetores tinham ido para o interior da sala onde o ucraniano estava isolado com um bastão, tendo "ouvido gritos" que disse serem de Ihor Homeniuk vindos do interior daquele espaço.

A testemunha recordou que foi fumar um cigarro e quando regressou viu o arguido Luís Silva sair da sala e dizer que "as coisas lá dentro estavam complicadas".

Manuel Correia revelou que teve oportunidade de espreitar para o interior da sala, onde viu Ihor com deitado com a barriga para baixo, com as mãos algemadas nas costas e que, quando a vítima tentou mexer-se, o inspetor Duarte Laja gritou para o passageiro: "Está quieto".

Acrescentou que Ihor Homeniuk mexeu-se novamente, ao que Duarte Laja repetiu "está quieto, está quieto", tendo este colocado um pé na nuca do passageiro, empurrando-o para que este permanecesse imóvel no colchão.

A testemunha relatou ainda que Ihor Homeniuk "tinha sangue na boca" e disse não se lembrar quem tinha sido a pessoa que levou as algemas para o interior da sala.

O segurança/vigilante relatou que após assistir àquela cena "ficou um bocado à toa", tendo justificado perante o tribunal que porventura terá ficado atónito com a situação porque "talvez porque não estivesse mesmo à espera daquela reação tão excessiva" por parte dos inspetores do SEF, "embora soubesse que a situação era complicada", uma vez que o passageiro ucraniano se mostrou sempre inquieto e perturbado com a possibilidade de ter que regressar ao seu país de origem.

Garantiu ao coletivo de juízes, presidido por Rui Coelho, que "nunca mais viu Ihor", tendo descrito os acontecimentos ocorridos durante a madrugada em que ele e o outro colega segurança, Paulo Marcelo, optaram por atar os pés da vítima com fita adesiva castanha, colocado sobre as calças, como forma de controlar o passageiro que já se tinha atirado contra um armário da sala e tentado alcançar com as mãos as calhas do ar condicionado.

Negou contudo que alguma vez o tivesse visto com fita adesiva nos pulsos, apenas com ligaduras, tendo dito ainda que uma secretária e duas cadeiras já haviam sido retiradas da sala face ao comportamento inconstante do passageiro ucraniano.

Além dele, admitiu, quem viu Ihor Homeniuk no interior da sala com os inspetores foi o seu colega vigilante Paulo Marcelo e "talvez a inspetora Cecília".

Foi nessa altura - afirmou - que o arguido e então inspetor do SEF Duarte Laja lhes terá dito que "não os queria lá", alegando que aquilo "não era para estar a ver".

Os advogados de defesa - Ricardo Sá Fernandes, Maria Manuel Candal e Ricardo Serrano - fizeram um contrainterrogatório dirigido àquilo que consideram serem contradições evidentes com o depoimento que a testemunha havia prestado em sede de investigação (inquérito), tendo esta alegado que não contou tudo inicialmente à polícia porque "queria passar despercebido".

A testemunha foi também insistentemente confrontada com uma revista enrolada que durante a madrugada levou para o interior da sala onde estava Ihor Homeniuk, negando que a intenção fosse agredi-lo com a revista, a qual tinha como figura de capa o "Cristiano Ronaldo". Alegou que a intenção inicial era "entreter" o passageiro que estava inquieto, mas que este não ligou à revista.

Antes, ouvido também como testemunha, o segurança Paulo Marcelo declarou ter ouvido "gritos agonizantes" vindos do interior da sala onde Ihor Homeniuk estava retido com três inspetores do SEF, admitindo ter presenciado a agressão da vítima com um bastão.

Três inspetores SEF - Duarte Laja, Luís Silva e Bruno Sousa - estão ser julgados por homicídio qualificado de Ihor Homeniuk, um crime punível com pena de prisão até 25 anos.

O crime terá ocorrido a 12 de março, dois dias após o cidadão do Leste Europeu ter sido impedido de entrar em Portugal, alegadamente por não ter visto de trabalho. Segundo a acusação, após ser espancado, terá sido deixado no chão, manietado, a asfixiar lentamente até à morte. Dois dos inspetores respondem ainda pelo crime de posse de arma proibida (bastão).

Leia Também: Segurança ouviu "gritos agonizantes" de Ihor e presenciou agressão

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