Os dados fornecidos à Lusa dão conta que 321 pessoas apresentaram denúncia de violência doméstica no Espaço Júlia durante o último ano, em comparação com as 372 que no ano anterior beneficiaram do seu atendimento permanente e especializado.
Esta descida é explicada pelo "silêncio" que se deu nos meses de março e abril, com a população em confinamento devido à pandemia de covid-19, o qual "preocupou muito" a equipa, afirmou à Lusa o chefe João Dias, da 1.ª Divisão da PSP.
A PSP salvaguarda que não são conhecidos os motivos que originaram a queda de atendimentos no Espaço Júlia nesses meses, mas aponta como possíveis razões o facto de as vítimas viverem com o agressor e terem receio ou não conseguirem aceder às respostas de apoio que lhes são destinadas.
A partir de maio as denúncias regressaram aos números anteriores ao confinamento.
Os dados demonstram ainda que o Espaço Júlia acompanhou, em 2020, 10 crianças e jovens - face a 14 no ano anterior - e 27 pessoas com mais de 65 anos - em relação a 29 em 2019.
De todas as denúncias apresentadas no ano passado, quase um terço (31,8%) foi feito por pessoas que tinham entre 25 e 34 anos.
Em 2019, a faixa etária mais representativa no que toca à apresentação de novas denúncias estava entre os 35 e os 44 anos, perfazendo 28,9% do total.
Cerca de 80,4% do total de vítimas pertenciam ao sexo feminino, verificando-se uma pequena subida face a 2019, ano em que essa percentagem correspondia a 78,5%.
Estes números não incluem as pessoas que recorreram ao equipamento já com processos em desenvolvimento.
Inês Carrolo, responsável pelo Espaço Júlia e impulsionadora do projeto, apelou a todas as pessoas para que alertem se tiverem conhecimento de casos suspeitos de violência doméstica.
Contudo, sublinhou que "é muito importante trabalhar junto da vítima, empoderá-la e integrá-la no processo", tendo o seu interesse em melhor conta.
"Não fazemos nada que a vítima não queira. É o nosso primeiro princípio: o da autonomia da vontade", acrescenta.
Inaugurado no dia 24 de julho de 2015, o Espaço Júlia funciona na Alameda de Santo António dos Capuchos, fazendo parte da sua equipa técnicos de apoio à vítima da Freguesia de Santo António e agentes da PSP, em parceria com o Centro Hospitalar de Lisboa Central.
Os técnicos intervêm diretamente nas denúncias de violência doméstica em articulação com as diversas entidades com atuação no âmbito da violência doméstica, nomeadamente, serviços sociais de emergência, autarquias locais, unidades de saúde familiar, segurança social e organizações da sociedade civil, bem como a promoção de atividades de caráter preventivo, informativo e de sensibilização na comunidade local.
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