"Sabíamos desde o ano transato que muito dificilmente iríamos ter edição este ano. Não seria possível -- de todo -- fazer este espetáculo. [...] A pandemia [da covid-19] não nos permite fazer qualquer tipo de atividade. [...] Há aqui uma frustração, mas também temos de preservar as nossas famílias e a nossa saúde", disse o presidente do Ginásio Alto do Pina, Pedro Jesus, em declarações à agência Lusa.
O responsável pela Marcha do Alto do Pina explicou que, devido ao novo adiamento do evento, que ocorre anualmente na Avenida da Liberdade, será feito um novo projeto para 2022, caso existam condições, congratulando-se com o apoio da Câmara de Lisboa.
"Este apoio - a fundo perdido -- é essencialmente um apoio à revitalização e à sobrevivência das próprias coletividades. É, acima de tudo, um apoio para as coletividades organizadoras das marchas populares, que desde o ano passado se encontram fechadas e têm rendas e despesas para pagar", indicou Pedro Jesus.
De acordo com o líder da coletividade, as associações receberam a notícia do apoio do município com alguma "surpresa", depois de terem recebido 7.500 euros no ano passado "para colmatar as despesas".
Na passada quinta-feira, o município anunciou que não será realizado o concurso das marchas populares que ocorre anualmente em junho, devido à pandemia da covid-19, e decidiu atribuir 15.000 euros a cada entidade organizadora.
"Tendo em conta o atual contexto pandémico e devido às restrições de saúde pública que ainda se mantêm, é com particular tristeza que a Câmara Municipal de Lisboa informa que não será possível realizar este ano o Concurso das Marchas Populares que habitualmente decorre no mês de junho", indicava o município em comunicado, na ocasião.
Apesar de não haver concurso, e "ciente do impacto económico, social e emocional na comunidade", a autarquia liderada por Fernando Medina (PS) decidiu atribuir a cada entidade organizadora das marchas o valor correspondente a metade do subsídio habitual, para minorar o prejuízo económico.
"Não sabíamos que a Câmara ia apoiar. [...] Entendemos que seja um apoio à sobrevivência do movimento associativo", reiterou Pedro Jesus.
Também o coordenador da Marcha de Alfama disse que, desde o início do ano, percebeu que não ia haver marchas, adiantando que o apoio representa um "balão de oxigénio" para as coletividades que "estavam com a corda na garganta".
"Houve algumas [ajudas] no ano passado quando surgiu o cancelamento do evento. [As associações] tinham despesas que foram muito além dos 7.000 euros que receberam no ano passado, portanto, tiveram de fazer uso de fundos próprios para pagar prejuízos. Nós não esperávamos nada", salientou João Ramos, acrescentando que os 15.000 euros "foi um belíssimo contributo".
Para João Ramos, tudo fazia prever que em 2021 não voltaria a haver desfile na Avenida da Liberdade, considerando que o evento sem a "componente popular e participativa do povo não faz sentido".
"As coisas não se fazem porque tem de se fazer, as coisas fazem-se desde que haja condições para se fazer de acordo com aquilo que é a estrutura do evento", sublinhou.
Já o líder da Marcha Infantil da Voz do Operário demonstrou preocupação por não haver desfile, pelo segundo ano consecutivo, garantindo que isso compromete a evolução e a integração das crianças na cultura popular.
"Do ponto de vista de registo, neste caso das crianças, é negativo. [...] Vão passando algumas crianças e chegam à adolescência e não tiveram esta experiência na sua vida", afirmou Vítor Agostinho.
Questionado sobre o apoio municipal, o responsável explicou que não estava à espera de ajudas, porque "não houve despesas com as marchas" este ano.
"Estávamos à espera que fosse zero. [...] Para nós são muito bem-vindos estes valores, porque independentemente de aplicados seja onde for, ao fim ao acabo, vai ajudar um bocado à gestão da Voz do Operário, enquanto membro do movimento associativo", assegurou.
Já o presidente da Associação das Coletividades do Concelho de Lisboa (ACCL), Pedro Franco, referiu que as associações tiveram "bastante prejuízo" no último ano.
"As coletividades [...] tinham os arrais também, tinham outras atividades, além das marchas, e isso ficou fechado durante este ano inteiro. Não posso contabilizar - ao certo - quanto é que as coletividades, sobretudo as que têm marchas, têm de prejuízo, mas que é bastante, é", observou.
De acordo com Pedro Franco, os 15.000 euros vão dar "uma margem muito boa para que as marchas possam sobreviver", perspetivando, desde já, mais um ano também sem arraiais.
"[Os arraiais] não vão acontecer. Era um contrassenso se a Câmara autorizasse os arraiais. Este ano é mais um ano desgraçado para todos", concluiu.
Leia Também: Câmara de Lisboa cancela Marchas Populares devido à Covid-19