O vice-almirante Gouveia e Melo assumiu a coordenação da Task Force da vacinação contra a Covid-19 nos primeiros meses deste ano.
O camuflado é uma das imagens de marca deste militar que, assim, se sente "preparado para este embate, que é um combate. O camuflado representa esse combate e é o único uniforme dos três ramos das Forças Armadas", esclareceu o responsável, na Grande Entrevista da RTP desta quarta-feira.
Para a coordenação desta pasta, o coordenador da Task Force trouxe, do mundo militar, o "foco, a organização, a disciplina e a vontade férrea de ganhar este combate".
Numa analogia a um cenário de combate, Henrique Gouveia e Melo assumiu que, no dia a dia, também há "nevoeiro de guerra". As "incerteza sobre a disponibilidade de vacinas em território nacional, a incerteza das regras de aplicação das vacinas, as mudança de regras, a mudança de disponibilidade num determinado momento" são algumas das condicionantes que toldam a organização do processo de vacinação.
O vice-almirante destacou, ainda, como óbices o "facto de haver muitos atores que têm de interagir e têm de ser coordenados num processo em cadeia que deve ter poucas falhas". Este fator "cria ruído e é preciso nos focarmos e concentrarmos no objetivo. É preciso organizar processos de forma permanente".
Quando integrou a Task Force da vacinação, enquanto 'número dois' à data, Gouveia e Melo recorda que houve, na altura, uma "perturbação inicial. Tivemos de começar um processo e organizá-lo do zero. Havia um conjunto elevado de tarefas e a tarefa era gigantesca. Tínhamos de nos preparar para um desafio muito grande que o país nunca tinha enfrentado".
Falamos de um processo "que tinha de ser massivo e urgente. E isso é uma coisa muito complexa. Essa parte inicial foi mais negativa, mas também faz parte do crescimento".
No dia em que o Ministério da Saúde indicou que 20% da população portuguesa já completou o esquema da vacinação contra a Covid-19, o responsável assume: "Já vejo a luz ao fundo do túnel".
A primeira evidência, detalhou, é uma "evidência absoluta, é que o número de mortes e de internamentos por Covid baixaram drasticamente e muito disso deve-se ao processo da vacinação. Quando focamos o 'ataque' em vacinar as pessoas acima dos 60 anos, e atingimos esse objetivo, estamos a proteger a população em termos da mortalidade e da doença grave".
Tendo esse objetivo sido alcançado, o processo irá evoluir para as fases seguintes, nomeadamente para as próximas faixas etárias, o que irá permitir também "libertar a economia, libertando a sociedade, que pode respirar com um bocado mais de normalidade".
Com o número diário de contágios a aumentar na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), Gouveia e Melo rejeitou a ideia de que vacinar, de forma prioritária, a população desta região seja a solução. "Num processo de contágio numa população como a portuguesa não podemos andar a vacinar atrás da incidência porque destruímos o processo. O que devemos fazer é vacinar proporcionalmente todo o território nacional. Fazendo isso, reduzimos a incidência e bolsas que possam ficar para trás, que depois vão criar surtos pandémicos. Fazer um 'ataque' global é a linha mestra".
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