Luto nacional? "Obviamente o Estado curva-se perante a memória de Otelo"
António Costa defendeu que o "Estado tem de procurar manter coerência e consistência relativamente à forma como homenageia os maiores que nos deixam" e sustentou que é "inequívoca a forma como o Estado homenageia Otelo".
© Getty Images
País António Costa
"O Estado tem de procurar manter coerência e consistência relativamente às formas como homenageia os maiores que nos deixam, nem todas as figuras têm merecido esta distinção [luto nacional]", afirmou o primeiro-ministro na tarde desta terça-feira, em declarações aos jornalistas nas cerimónias fúnebres de Otelo Saraiva de Carvalho, em Lisboa.
Prosseguindo, António Costa defendeu que "há formas múltiplas de homenagear os nossos grandes".
"O obviamente o Estado curva-se perante a memória do coronel Otelo. Creio que é inequívoca a forma como o Estado o homenageia", sublinhou, lembrando que o Governo emitiu "imediatamente" um comunicado aquando da notícia da morte do capitão de Abril.
O chefe do Executivo contou que tem "um especial carinho" em relação ao general Otelo Saraiva de Carvalho, porque, quando era criança, a sua mãe foi em serviço mais de seis meses para os Bijagós (ilhas costeiras da Guiné-Bissau) e de ter, por isso, ficado sozinho em casa
"E a única ponte de contacto entre nós era assegurado através do responsável da assessoria de imprensa que era precisamente Otelo (...) Todas as sextas-feiras me ligava dando notícias da minha mãe. Sempre tive essa recordação", lembrou.
Perante a insistência dos jornalistas sobre a decisão de não ter sido decretado luto nacional pela morte de um dos principais rostos da Revolução dos Cravos, e ao som de protestos de populares, António Costa disse que o que o importante não é termos "uma polémica", mas sim o momento de termos uma "reconciliação de todo o país" em torno da figura do general Otelo Saraiva de Carvalho. Da sua parte e da parte do Governo, assegurou, a "consideração" é a "maior". "Não vamos abrir aqui polémicas".
"O 25 de Abril teve diferentes figuras proeminentes. Ninguém diminui, obviamente, a importância e relevância de Otelo. Infelizmente o país já perdeu muitas dessas figuras", frisou o primeiro-ministro referindo-se novamente à "coerência e consistência" nas homenagens.
A posição de António Costa alinha com a do Presidente da República que esta terça-feira lembrou que não houve luto nacional por outras "figuras cimeiras".
Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas depois de ter passado pela capela da Academia Militar, em Lisboa, onde esta tarde decorre o velório de Otelo Saraiva de Carvalho, que morreu no domingo, e que, como referiu o Presidente, foi uma "figura cimeira" da operação militar de 25 de abril de 1974, a par de outros nomes já desaparecidos, como Salgueiro Maia, "a protagonizar", ou Ernesto Melo Antunes, "a pensar".
Penso que pesou o facto de figuras que eu já referi, Salgueiro Maia, Melo Antunes, não terem merecido essa homenagem. Olhando para trás, é pena que não tenham merecido", afirmou o Presidente, depois de lembrar que a decisão de propor luto nacional é do Governo.
"Na altura não ocorreu e, portanto, para não abrir um debate sobre vários nomes cimeiros, qual o mais cimeiro, penso que foi isso que levou o Governo a não dar o passo", acrescentou.
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