O ministro dos Negócios Estrangeiros recusou, esta segunda-feira, que Portugal tenha deixado cidadãos afegãos para trás, na operação levada a cabo na semana passada e que tinha como prioridade uma lista de 116 cidadãos (incluindo as respetivas famílias) que colaboraram com as forças portuguesas nos últimos anos.
"Insurjo-me contra qualquer alusão de que Portugal tenha abandonado seja quem for. Pelo contrário, estamos a fazer tudo o que podemos, dentro das nossas competências e dos nossos poderes para apoiar todos aqueles que precisam de proteção humanitária", garantiu Augusto Santos Silva, em declarações ao Jornal da Tarde da RTP.
Em causa está, por exemplo, o caso do antigo intérprete afegão, que ajudou as forças militares nacionais em várias missões em Cabul, e que foi deixado para trás na operação de resgate. O homem estava na lista dos 116 afegãos identificados pelo Governo português e já tinha seguido todas as indicações, recebidas por e-mail, para o resgate.
Contudo, a confusão e a multidão no aeroporto de Cabul impediram o ex-intérprete, a sua mulher grávida de oito meses e a sua bebé de nove meses de conseguirem chegar à aeronave em que seguiriam para Portugal.
No dia seguinte, o homem conseguiu chegar sozinho às tropas portuguesas e entregar os passaportes a um militar. De seguida, foi buscar a família mas, mais uma vez, já não conseguiu voltar para o portão de embarque, acabando por ficar em Cabul e sem documentos de identificação.
Sobre o caso em concreto, Santos Silva garante que os quatro militares portugueses que estiveram na semana passada em Cabul "fizeram tudo o que lhes foi pedido com elevada competência e proficiência" e contribuíram para "salvar muitas pessoas", mas não tinham "ordens para ir além da sua missão sob pena de termos de lamentar a perda de vidas".
O ministro adianta que, da lista de 116 afegãos, foram retirados do país 56. "Faltam outras dezenas", conclui.
À estação televisiva, assegura que Portugal está "a trabalhar com os aliados para tentar apoiar essas pessoas na sua saída".
"Eu não posso garantir que o aeroporto de Cabul continue operacional para fins humanitários. Podemos e estamos a pressionar nesse sentido ao mais alto nível, ao nível do Conselho de Segurança das Nações Unidas", salientou Santos Silva, sublinhando que Portugal tentará "facilitar a saída [dessas pessoas em falta] quer por via aérea, quer por via terrestre".
Contudo, o ministro não adianta como é que isso poderá ser feito, já que os talibãs assumiram hoje o controlo total do aeroporto internacional de Cabul, após o último avião norte-americano ter descolado.
"Não direi uma palavra sobre os aspetos operacionais, senão estaria a pôr em risco esta missão", concluiu.
Leia Também: Governo vai garantir visto para mãe e irmã de afegão em greve de fome