"A nova variante ainda não nos assustou, vamos ver o que acontece, mas não podemos entrar em pânico como a Inglaterra e outros países, estamos serenos e a cumprir todas as normas decretadas pelas autoridades sul-africanas", sublinhou José Contente à Lusa, dirigente da União Cultural Recreativa e Desportiva Portuguesa, em Turffontein, Joanesburgo, uma das maiores coletividades da comunidade no país.
Toni Vilaça, proprietário do jardim escola Little Leaders, na vizinha cidade de Kempton Park, leste de Joanesburgo, concorda com a necessidade de sossegar as pessoas: o "desafio" é controlar o "pânico" porque "ninguém sabe o que de facto se passa, é um problema universal".
"Estamos também preocupados, embora exista pouca informação, hoje veio cá o Pai Natal e a escola continuou a funcionar como normalmente, mas se o país confinar teremos de fechar porque não aguentamos as despesas", explicou Vilaça.
Para o Presidente da União Portuguesa, o facto de o país estar a entrar no verão do hemisfério sul é algo que pode favorecer o combate à doença: "a época de calor vai até março, por conseguinte vamos dar tempo ao tempo".
Questionado pela Lusa sobre o impacto da nova variante da covid-19 detetada na África do Sul, Botsuana, Israel, Hong Kong e Bélgica, o dirigente português disse esperar que não provoque um novo confinamento.
"Duvido que venha a condicionar o Natal na África do Sul, porque estamos no Verão", explicou, acrescentando: "As vagas que nos assustam são as vagas da Europa onde há frio e gelo".
Segundo José Contente, a coletividade - uma das mais antigas no país --não realiza o habitual almoço de Natal desde 2020 "para evitar ajuntamentos" devido à pandemia do novo coronavírus.
"Temos que continuar a cumprir o que está estabelecido pelas autoridades sul-africanas, continuar a vacinar, manter o uso da máscara e o distanciamento social", salientou José, sublinhando que "a vacinação é positiva".
"Todavia, as coisas podem se agravar enquanto não houver doses suficientes para vacinar a maioria da população porque os países ricos vacinaram-se e os pobres de África que se desenrasquem", declarou.
Estima-se que vivam cerca de 450.000 portugueses e lusodescendentes na África do Sul, dos quais pelo menos 200 mil em Joanesburgo e na província de Gauteng, onde se situa também a capital do país, Pretória.
"Sei que o filho de um grande amigo meu que está em Londres teve de cancelar a viagem à África do Sul para visitar os pais que já não via há dois anos", disse à Lusa Toni Vilaça.
"Este ano, a pandemia da covid-19 condicionou as nossas férias familiares, porque vamos sempre para Moçambique, e devido à covid-19 cancelámos tudo, mas não foi por causa desta variante", sublinhou Toni Vilaça à Lusa.
"Estamos constrangidos como no resto do mundo e não sabemos o dia de amanhã", frisou.
Na quinta-feira, o Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD) da África do Sul, no âmbito do Ministério da Saúde, anunciou a descoberta de uma nova variante da covid-19 - B.1.1.529 -- que foi detetada no país.
"Vinte e dois casos positivos da variante B.1.1.529 foram registados no país", referiu em comunicado o NICD.
Segundo os cientistas sul-africanos, a nova variante também foi encontrada em Hong Kong e no Botsuana.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou hoje contra a imposição de restrições de viagem devido à variante 'B.1.1.529 Covid-19', afirmando que o seu impacto "irá demorar semanas para entender".
O anúncio repentino da Grã-Bretanha de proibir temporariamente voos de seis países africanos, incluindo da África do Sul, causou de imediato o "pânico", segundo a imprensa sul-africana, que reportou uma corrida a voos "urgentes" de saída da África do Sul.
Segundo a imprensa sul-africana, a retoma da economia nacional "corre agora o risco de ser prejudicada pela transparência das autoridades sul-africanas na identificação e divulgação de uma nova variante do novo coronavírus que levou várias nações europeias a proibir viagens para o país a meses do início da temporada de férias de verão".
Depois do anúncio das autoridades sul-africanas, a Bélgica anunciou hoje ter confirmado também um caso da nova variante numa pessoa que viajou ao estrangeiro, que testou positivo à covid-19 em 22 de novembro, segundo a imprensa local.
Com mais de 19,3 milhões de testes realizados até à data, a África do Sul contabiliza 2,9 milhões de casos positivos de infeção da covid-19, 89.771 óbitos, 2.843.961 recuperados e 18.768 casos ativos, segundo as autoridades de Saúde de Pretória.
Nas últimas vinte e quatro horas, o país registou 114 óbitos e 2.465 novos casos de infeção de covid-19, adiantou o Ministério da Saúde.
Mais de 25 milhões de doses da vacina contra a covid-19 foram administradas desde o início do programa de vacinação na África do Sul, adiantou.
O Governo sul-africano anunciou a pretensão de vacinar 40 milhões de pessoas até o final do ano.
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