"Relativamente ao meu cliente, lamento profundamente que, neste momento, os políticos já se tenham pronunciado e tenham politizado este processo", afirmou hoje à agência Lusa Luís Cruz Campos.
Na quinta-feira à noite, uma investigação CNN/TVI deu conta da acusação de sete elementos da GNR de um total de 33 crimes, por alegadamente humilharem e torturarem imigrantes em Odemira.
De acordo com a investigação da CNN/TVI, a Polícia Judiciária já havia recolhido os telemóveis a cinco militares do posto da GNR de Vila Nova de Milfontes, suspeitos de maus-tratos a imigrantes.
Em sete vídeos analisados é possível detetar cenas de violência, insultos racistas, tortura física e humilhação contra vários imigrantes de origem asiática.
Na quinta-feira, em Bruxelas, questionado pelos jornalistas, o primeiro-ministro, António Costa, disse que "não compreenderia que houvesse alguém que não tivesse repúdio por aquelas imagens".
Apesar de reconhecer que ainda não tinha visto as imagens, "pela discrição" das mesmas "não compreenderia que houvesse alguém que não sentisse um repúdio profundo" em relação ao que mostram, vincou o chefe do Governo.
Segundo o advogado, "está a fazer-se, mais uma vez, uma grande confusão entre o poder judicial e o poder político".
"E lamento também que pessoas que não estejam ligadas ao processo, advogados, deixem de ser advogados para serem comentadores, violando claramente o estatuto da Ordem dos Advogados", continuou.
O defensor do militar da GNR João Lopes, acusado neste processo de um crime de sequestro, um de abuso de poder e outro de ofensa à integridade física, todos em coautoria, segundo o despacho de acusação a que a Lusa teve hoje acesso.
Tendo visionado os vídeos de telemóvel que servem de base ao processo, Luís Cruz Campos admitiu que "as imagens são chocantes", mas que "o primeiro-ministro não deve comentar processo judiciais".
"Nem ele, nem os 'fazedores' de opinião que estiveram na televisão a debitar umas palavras sobre um processo que não conhecem", argumentou, lamentando que "já se tenha feito um julgamento público e um linchamento" do seu cliente, desrespeitando "a presunção de inocência".
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