Numa conferência na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, em 25 de junho de 2012, Desmond Tutu afirmou que os seres humanos só têm uma casa, que estão a destruir, e ainda não perceberam que são "da mesma família", que, na origem, é africana.
Recorrendo a histórias bíblicas e com o riso que lhe é característico, realçou que uma das "lições de deus" é a de que não é possível "ser humanos em isolamento". "Precisamos dos outros para nos complementar", disse.
Acreditando que os seres humanos são originalmente bons e que é "um incrível privilégio fazer deste o nosso mundo", o Nobel da Paz sul-africano falou do "cuidado pelo outro", que "é da mesma família", para, após uma gargalhada daquelas que o caracterizam, dizer: "Lamento informar-vos, mas somos todos africanos."
"Imaginem, se realmente acreditássemos nisto, investiríamos tanto em instrumentos de morte e defesa como fizemos até agora?", questionou, comparando os "escandalosos orçamentos" gastos em defesa e armamento à pequena parte canalizada para "dar água limpa e comida suficiente às crianças do mundo".
Desmond Tutu partilhou a conferência "Diálogos sobre a paz e o desenvolvimento sustentável" com o ex-Presidente da República Jorge Sampaio, que, reconhecendo que "os indivíduos são essenciais", sublinhou que "nada realmente acontece sem esforço coletivo".
"Temos diálogo todos os dias, mas o diálogo que interessa é sobre as diferenças e sobre o que temos em comum, aquele que obriga a negociar o tempo todo", destacou Sampaio, então presidente da Aliança das Civilizações.
Desmond Tutu, arcebispo emérito sul-africano e Nobel da Paz de 1984 pelo seu ativismo contra o regime de segregação racista do Apartheid, morreu hoje aos 90 anos, anunciou o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
O arcebispo anglicano estava debilitado há vários meses, durante os quais não falou em público, mas ainda cumprimentava os jornalistas que acompanhavam cada uma das suas saídas recentes, como quando foi tomar a sua vacina contra a covid-19 num hospital ou quando celebrou os seus 90 anos em outubro.
Desmond Tutu ganhou notoriedade durante as piores horas do regime racista na África do Sul, quando organizava marchas pacíficas contra a segregação, enquanto sacerdote, pedindo sanções internacionais contra o regime branco em Pretória.
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