Desde domingo que o parque de estacionamento e auditório do seminário vivem uma azáfama aparentemente interminável, onde portugueses e ucranianos se reuniram para receber, organizar e colocar no contentor oferecido por uma empresa de camionagem os produtos oferecidos.
No auditório, o espaço entre caixas divididas por setores só existe para passar de um lado para o outro, para distribuir pelos diversos setores os produtos dos sacos que não param de chegar, num corrupio de um exército de voluntários com tanto para fazer, que alguns nem dão pela presença dos jornalistas.
Cá fora, no contentor prestes a fechar a porta, dois homens recebem e acondicionam os últimos produtos para seguir viagem. "Já não falta muito para sair", conta à Lusa uma das responsáveis da subdelegação de Gaia da Associação dos Ucranianos em Portugal, Alyona Smertina.
"Do dia para a noite, reuniram-se vontades e, depois de contactos com a Ucrânia e perceber as necessidades, tentamos ajudar a reunir para enviar", relatou a coordenadora ucraniana, numa conversa num parque de estacionamento onde a constante chegada dos carros não permite ficar no mesmo sítio muito tempo.
No camião, descreveu, "vão medicamentos, roupa quente, mantas quentes, camas, muitas conservas, água e leite. Recebemos apoio também de muitas empresas, de farmacêuticas que ofereceram muitas coisas, medicamentos para primeiros socorros, mas também temos medicamentos cujas receitas foram prescritas por médicos", num contributo que faz também com que a associação disponha já de "advogados e psicólogos prontos para ajudar os refugiados" que vierem para Portugal.
Assim que chegar ao destino, continuou Alyona, os camiões descarregarão "em grandes armazéns que há lá [no lado polaco da fronteira] e depois outros camiões chegarão da Ucrânia para carregar novamente e distribuir pelas pessoas", explicando que a gestão até à fronteira será feita pelo "consulado da Ucrânia na Polónia".
A viagem, disse, demorará "entre quatro e cinco dias" e o "segundo camião deverá ficar pronto amanhã [terça-feira]".
A responsável deixou ainda um apelo à "TAP e às agências de viagens para disponibilizarem um avião para trazer os refugiados".
Lá dentro, Maria Laeva interrompeu a tarefa de escrever as etiquetas com os nomes dos produtos correspondentes para uma breve conversa com a Lusa: "hoje comecei às 09:00, mas ontem já havia muita confusão, havia mais pessoas do que hoje", apontando para nunca antes das 22:00 o final do trabalho que a rodeia por todos os lados, apesar de, entre sorrisos, ter admitido que começava a "faltar o papel para escrever as etiquetas".
Ao lado, meia dúzia de mulheres, de cócoras, tratam dos 'kits' de primeiros socorros. Sniznana Kuchynska explica a azáfama: "aqui é a recolha de medicamentos, estamos a recolher água oxigenada e medicamentos como Paracetamol e Brufen, também temos pensos, temos quase todos os medicamentos que se podem comprar", disse.
Medicamentos que, precisou, "são para todos", havendo "também para crianças".
"A adesão surpreendeu. Muito obrigada a todos", agradeceu, antes de revelar ter "quase toda a família na Ucrânia" e parte dela em "zona de guerra", razão por que "nem sempre" consegue "contactar com eles, por falta de internet lá", o que obriga os familiares a terem de "procurar sítios elevados para obterem sinal".
De volta ao exterior, Sofia Markadov aproveitou a reportagem da Lusa para deixar vários apelos: "Não conseguimos receber mais roupa, peço a quem queira ajudar que as doem a outras instituições".
"As instituições que estejam a precisar de roupa, contactem-nos que nós doamos", acrescentou, antes de elencar as necessidades anotadas: "O que mais estamos a precisar são medicamentos, 'kits' de primeiros socorros, 'power banks', pilhas, lanternas, tapetes de campismo, roupa interior térmica e meias, as únicas peças de roupa que é possível passar para a Ucrânia".
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