António Costa Silva, ex-gestor da petrolífera Partex, que concebeu o programa de recuperação económica do país no pós-pandemia, analisou a reação que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia despertou, nomeadamente “a confluência de vários fatores geopolíticos”, numa grande entrevista dada à RTP1.
O empresário começou por comentar a relação da Rússia com a China, já antes da guerra, recordando que antes da invasão russa, o presidente Putin foi à China e, na altura da inauguração dos jogos olímpicos de Pequim, apareceu ao lado do presidente Xi Jinping a defender a integração de Taiwan na China, a dizer que Taiwan era uma parte integrante da China, e simultaneamente, o presidente Xi Jinping condenou a expansão da NATO, acrescentando que a partir daí os russos movimentaram as suas forças.
“Essa movimentação de tropas também é um sinal, esta junção de duas potências, as duas potências revisionistas, que querem rever a ordem internacional atual, que estão juntas no desafio à liderança dos Estados Unidos. compõem um quadro político novo”, salientou.
António Costa e Silva, também professor universitário, afirmou que “a posição da China aqui é muito complexa”, esclarecendo que “a China está a fazer cálculos”. Admitiu que o presidente Putin cometeu erros e admitiu ser uma “das pessoas que pensa que o ocidente subestima o presidente russo”, o que, nas suas palavras, explica “por que é que a Rússia, quando comparada com a União Europeia (UE), em termos do PIB, a UE é 15 vezes maior que a Rússia, os orçamentos militares sete vezes maiores que a Rússia, a população três vezes maior”.
O gestor pensa que “a UE tem-se governado em relação à Rússia como um anão geopolítico” e que não tem “um pensamento estratégico”. Abordou também a questão da energia que diz ser “uma questão crucial”. António Costa e Silva recordou a segunda guerra mundial e, na sua opinião, começaram-se a jogar “monopólios energéticos europeus, a começar pelos alemães, França e Itália que têm contratos com a maior companhia produtora de gás do mundo que é uma companhia estatal russa”.
Revelou que essa empresa detém 30% das reservas mundiais de gás e, “nesse sentido, a Europa sobretudo a Alemanha, ficou completamente nas mãos da Rússia”, que hoje fornece 40% de gás à Europa, 30% de petróleo, o que, para si “foi um erro estratégico”.
Acredita que “os europeus assumiram sempre, tal como ela assumiu [Chanceler alemã], que a Rússia nunca iria usar a energia como uma arma geopolítica, o que é completamente ingénuo”. E frisou ser “extremamente favorável ao mercado único da energia”, argumentando que “diversifica as suas fontes de abastecimento, desenvolve a península ibérica integrada no mercado europeu, diversifica o abastecimento, as vulnerabilidades são muito menores, como a autocompetitividade, a concorrência e isso diminui a ascendência energética da Rússia sobre a União Europeia”.
António Costa e Silva disse defender que “a Rússia deve ser um parceiro estratégico da Europa”, o que “hoje é muito mais difícil face a tudo o que aconteceu”. “Mas não há inocentes nesta história. Há erros da parte russa. Nada justifica esta invasão bárbara da Ucrânia. Mas não podemos esquecer que há erros da Europa e há erros dos Estados Unidos”, alertou.
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