No templo hindu reza-se também pela Ucrânia, pelas vítimas do conflito, para que a paz regresse a um país de onde já fugiram 4,8 milhões de pessoas desde a invasão russa, a 24 de fevereiro.
O apoio imediato à Ucrânia passou pela disponibilização do espaço onde se encontra o imponente templo Radha Krishna, em Lisboa, para recolha e armazenamento de bens destinados à população ucraniana, disse à agência Lusa Chirague Bhanji, vice-presidente da Comunidade Hindu de Portugal, onde o sagrado e o profano andam de mãos dadas.
A intervenção foi articulada com um sacerdote ucraniano e os objetivos de curto prazo passam pela aproximação a esta comunidade, revelou o responsável pela nova direção, eleita há um mês e meio.
"Estamos agora a desenvolver uma linha de apoio de fundos monetários para serem enviados para as respetivas entidades para darem o apoio financeiro a todos os refugiados da Ucrânia", indicou.
A comunidade vai também disponibilizar apoio aos cidadãos ucranianos que chegam a Portugal, ao nível da distribuição de água, medicamentos, produtos de higiene e brinquedos.
Percorrer os corredores da instituição, com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), implica passar por várias indicações para aulas de português, um projeto iniciado com refugiados afegãos acolhidos em Portugal na sequência da tomada do poder em Cabul pelo regime talibã, em agosto do ano passado.
"Começámos com três turmas, íamos ter três turmas de 60 pessoas. Quando abrimos as inscrições, em 24 horas tínhamos mais de 400 pessoas inscritas para aulas de português", contou à reportagem da Lusa o ex-vice-presidente, Ajit Hansraj, sublinhando o apoio do Instituto Camões, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Alto Comissariado para as Migrações.
Atualmente decorrem aulas para imigrantes oriundos da Índia que não falam português e "muito brevemente" esta valência estará disponível para cidadãos ucranianos. "Certamente vão precisar desse apoio linguístico", sublinhou Chirague Bhanji.
A comunidade, que conta com o trabalho voluntário de várias professoras, tenciona "reativar um protocolo com o Instituto Camões".
No âmbito da intervenção social, está ainda em desenvolvimento uma plataforma de apoio à procura de emprego por parte de refugiados que, segundo Chirague Bhanji, estará concluída dentro de quatro a cinco meses.
"Os refugiados terão oportunidade de ir ao portal procurar emprego e as empresas estarão conectadas do outro lado para abraçar essa oferta de trabalho", avançou.
A iniciativa está a ser desenvolvida em parceria com o Alto Comissariado para as Migrações, adiantou o vice-presidente da Comunidade Hindu, formada por hindus oriundos de Moçambique, que se instalaram em Portugal a seguir à independência do país, em 1975, e que abarca cada vez mais países, em resultado das novas vagas de imigração. A abertura à sociedade, em geral, tem vindo a acentuar-se através da intervenção social e cultural.
"Esta comunidade é aberta a todas as religiões e a todas as instituições. O que vemos é que a emancipação que houve um pouco também da cultura do ioga e do ayurveda trouxe aqui bastantes pessoas a conhecer a comunidade, a conviver connosco também. É um centro que claramente está aberto a todas as pessoas", afirmou Bhanji.
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