A missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, na sigla em inglês) para averiguar a existência de crimes de guerra e crimes contra a humanidade na Ucrânia afirmou, esta quarta-feira, que há "padrões claros" de ação militar criminosa pelas tropas russas.
Num relatório inicial da missão, citado pela Reuters e apresentado em Viena, na Áustria, a OSCE garante ter encontrado provas de falta de precaução pelas tropas russas em não atingir estruturas não-militares, como escolas e hospitais.
"Parece evidente que dezenas de milhares de propriedades foram danificadas ou destruídas com efeitos desastrosos diretos e indiretos para os civis", aponta a organização.
A missão foi aprovada por 45 dos 57 membros da OSCE, com a Rússia a opor-se à realização da mesma.
Os russos continuam a negar quaisquer responsabilidades nos ataques em Mariupol, tanto à maternidade, no dia 9 de março, como a um teatro no dia 16 de março, este último identificado como um abrigo para civis, e no qual 300 pessoas foram mortas.
"A missão não foi capaz de concluir se o ataque russo na Ucrânia per se pode ser qualificado como um ataque sistemático ou abrangente contra uma população civil", acrescentou, no entanto, a OSCE, referindo crimes descritos nos arredores de Kyiv durante a retirada das tropas russas, como homicídio e violação.
Os especialistas da OSCE mencionam ainda no documento hoje divulgado terem recolhido "provas credíveis" de tortura e tratamento degradante.
Segundo o relatório, "assassinatos seletivos, desaparecimentos forçados e sequestros de civis" enquadram-se "muito provavelmente" na categoria de "crimes contra a humanidade".
A missão também observou "violações [cometidas] do lado ucraniano", afirmando-se "particularmente preocupada com o tratamento dos prisioneiros de guerra", mas sublinhou que os crimes "cometidos pela Federação Russa são muito mais graves quer em termos de natureza quer de envergadura".
O relatório foi concluído antes da descoberta, no início de abril, na cidade de Bucha, perto de Kiev, de vários cadáveres espalhados pelas ruas e em valas comuns, alguns com as mãos atadas atrás das costas.
Estas atrocidades "exigem investigações nacionais e internacionais no local", sublinham os relatores.
Criada em 1975, em plena Guerra Fria, para promover o diálogo entre o ocidente e o leste, a OSCE criou uma missão semelhante em 2018 para examinar crimes na Chechénia contra pessoas LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e outras) e em 2020, após as eleições na Bielorrússia, consideradas fraudulentas e seguidas de repressão de manifestações civis.
Leia Também: Peritos forenses franceses em Bucha para ajudar autoridades ucranianas