De cravo ao peito, Rui Tavares subiu ao púlpito da Assembleia da República, em Lisboa, pela primeira vez numa sessão solene comemorativa do 48º aniversário do 25 de Abril de 1974, para um discurso em que enalteceu algumas das conquistas da 'revolução dos cravos', dia que "valeu por séculos".
"A democracia que construímos com o 25 de Abril, representou finalmente uma possibilidade de acesso ao ensino para todos numa escala e de uma forma que nunca tinha existido na história de quase 900 anos deste país", vincou.
Tavares evocou o exemplo de "milhões de portugueses" que viveram toda uma vida em ditadura.
"Não é por acaso que logo que lhes foi possível, a primeira coisa que milhões de pais e mães do nosso país fizeram foi pôr os filhos e as filhas a estudar até onde eles e elas quisessem. Ainda hoje façam a experiência, agora que eles já são avós e avôs e até bisavós, perguntem-lhes o que lhes dá mais orgulho e ouvirão: a neta que acabou o mestrado e quer fazer o doutoramento, o neto que está a fazer Erasmus", disse.
O deputado único do Livre defendeu que a revolução de 1974 "foi um dia que valeu décadas: amanheceu com presos políticos nas cadeias, e acabou com a noção que ou saíam todos, ou não saía nenhum".
"Por fim, o 25 de Abril de 1974 amanheceu também com uma guerra colonial de há 13 anos e entardeceu sabendo-se que ela tinha de acabar. Aí, o 25 de Abril valeu por séculos e não só por décadas. Porque o fim do ciclo imperial e colonial, que abriu caminho a que se iniciasse um ciclo europeu, significa uma basculação na nossa história tão determinante que ainda não foi verdadeiramente assimilada", destacou.
Tavares fez ainda referência aos três D do 25 de Abril de 1974 - Democratizar, Descolonizar e Desenvolver - para deixar um alerta.
"Dos três D da Democracia, Desenvolvimento e Descolonização pensa-se por vezes que este o último foi o mais imediato a ser cumprido. Mas se pensarmos que o abandono das estruturas coloniais significa tratar toda a gente com o mesmo respeito e dignidade e encontrar um novo lugar na Europa e no mundo, logo perceberemos que, como os outros dois D, se trata de uma tarefa longa a ser cumprida", alertou.
"O caminho que se abre à frente de Portugal é agora muito diferente daquele que durante séculos nos habituámos a trilhar, e ainda bem. A partir de agora contamos só com a valorização das pessoas, do conhecimento e do território como chaves para o nosso futuro", sublinhou.
Para o deputado único do Livre, "nada é tão importante quanto aprofundar a democracia", "debater e escolher um novo modelo de desenvolvimento" para o país e "levá-lo a cabo".
"É isso que devemos ao 25 de abril, agora chegou o momento de dar de volta", rematou.
[Notícia atualizada às 11h10]
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