O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou, esta sexta-feira, após ter reunido com a Comissão Independente (CI) que investiga abusos sexuais na Igreja Católica, que esta "desbloqueou um tabu" na sociedade portuguesa e deixou ainda um apelo a possíveis vítimas para "não terem medo".
O chefe de Estado apelou a que sejam feitas denúncias destes casos e destacou a importância dessas denúncias.
"Ficou claro a importância do testemunho e esse testemunho anónimo tem um valor fundamental como exemplo daquilo que deve ser o comportamento dos portugueses", acrescentou, defendendo que "os portugueses devem colaborar nesta procura de justiça".
"Testemunhem e utilizem o direito de denúncia", frisou acrescentando, posteriormente, que "a Comissão fará o apuramento integral da verdade".
Marcelo apontou que "é chocante haver este tipo de crimes, mas frisou: "há realidades que são imparáveis".
"As realidades não são imparáveis porque a comunicação social fala muito, ou porque é uma moda, ou porque aconteceu lá fora também se quer transpor cá dentro... Não. São imparáveis porque a própria existência da democracia, e nós temos democracia apesar de tudo há pouco tempo, mas já tem mais de quatro décadas. A existência da democracia num Estado de Direito implica uma justiça efetiva", adiantou ainda sublinhando que "a justiça é imparável".
Para o Presidente da República é importante "antecipar aquilo que é inevitável" e isso passa por apurar a verdade e aplicar a justiça a estes casos.
"Para isso é que foi criada a Comissão e para isso é que existe a justiça: para apurar, julgar e punir", sublinhou ao longo do seu discurso.
Marcelo frisou ainda que as "Igrejas têm um papel secular na sociedade" e estes crimes têm vindo a ser ocultados há muito tempo e, por isso, a Igreja Católica terá que "retirar consequências". Quanto a casos concretos, o antigo professor catedrático indicou que não falou sobre casos específicos com a Comissão e que isso seria com a justiça.
"Esta comissão já validou 352 testemunhos, tendo encaminhado para o Ministério Público 17 casos, que levaram à abertura de 10 inquéritos. Iniciou funções em janeiro deste ano e espera terminar em dezembro um relatório sobre a situação nos últimos 70 anos", apontou o chefe de Estado.
A Comissão Independente deverá emitir um relatório do que foi investigado no início de 2023, em janeiro.
A audiência contou com a presença do presidente da Comissão, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, e outros dois membros: a socióloga Ana Nunes de Almeida e a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares.
Decorreu no mesmo dia em que o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, foi recebido pelo Papa Francisco a propósito dos acontecimentos das últimas semanas, relacionados com suspeitas de abusos de menores na igreja em Portugal, revelou o Patriarcado.
[Notícia atualizada às 18h13]
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