Durante a visita, onde foi recebido pelo chefe de Departamento de Relações Externas da Administração Regional de Kiev, Cravinho salientou que, depois de ver ao vivo, o nível de destruição desta cidade-satélite de Kiev, "só se veem bairros e bairros residenciais e não há aqui nenhum objetivo militar que justifique" os ataques russos.
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, trata-se de "crimes de guerra", ocorridos quando a Rússia se retirava da região para se concentrar na frente do Donbass (no leste ucraniano), "o que reforça a futilidade" destas ações
Portugal, afirmou, "está a colaborar com o Tribunal Penal Internacional e com a Procuradoria-Geral ucraniana" na investigação destes crimes.
O ministro lembrou a colaboração de municípios portugueses com Irpin, destacando o caso de Cascais, que tem um projeto da construção de uma creche na cidade, não descartando a possibilidade de também o Governo colaborar nas iniciativas de ajuda.
Na sua curta visita a Irpin, João Gomes Cravinho visitou um dos bairros mais atingidos no período em que os russos se acercavam de Kiev, numa cidade que, segundo ouviu das autoridades locais, não foi ocupada pelas tropas invasoras, mas foi severamente atingida por tiros de artilharia e ataques aéreos.
Dos 100 mil habitantes em Irpin antes da guerra, entre 90% e 95% regressaram, de acordo com as autoridades locais, e grande parte reside em casas temporárias ou junto de familiares.
O ministro dos Negócios Estrangeiros está hoje em Kiev, para reiterar o apoio de Portugal à Ucrânia no dia em que o país celebra o 31.º aniversário da sua independência e também quando se assinalam seis meses desde o início da invasão russa.
Da parte da manhã, João Gomes Cravinho encontrou-se com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e com o seu homólogo, Dmytro Kuleba.
Irpin foi uma das localidades da Ucrânia onde o exército ucraniano resistiu aos ataques russos e travou o avanço das forças de Moscovo até à capital Kiev, a cerca de 20 quilómetros.
Classificada como a "cidade heroica", Irpin tem sido visitada nos últimos meses por vários líderes internacionais, incluindo o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o primeiro-ministro português, António Costa, que em maio passado quis testemunhar presencialmente o rasto de destruição provocado pelos violentos combates ali travados.
Situada às portas de Kiev e junto a Bucha, onde também foram registados numerosas suspeitas de crimes de guerra, Irpin foi recuperada pelas tropas ucranianas no fim de março e desde então surgiram relatos das alegadas atrocidades cometidas pelas forças russas, com a descoberta de centenas de corpos de civis na cidade e de indícios de pilhagens, violência e tortura, atos já classificados por várias vozes da comunidade internacional como "crimes de guerra" e cuja investigação está em curso.
Segundo os últimos dados oficiais, foram descobertos pelo menos 300 corpos nesta cidade.
[Notícia atualizada às 16h00]
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