Em declarações à Lusa, a propósito dos resultados da 1.ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior hoje divulgados, e que revelam a colocação de quase 50 mil novos estudantes nas universidades e politécnicos, a presidente do SNESup, Mariana Gaio Alves, olha para os resultados como "um sinal muito positivo da valorização que os jovens atribuem à formação de nível superior", mas tem preocupações inerentes.
A principal este ano é o peso da inflação, dado o contexto generalizado de aumento de preços, o que necessariamente tem consequências nos orçamentos das instituições, que "vão estar ainda mais sobre pressão".
"O dinheiro que é transferido do Orçamento do Estado não chega já há vários anos para cobrir sequer os salários dos professores e dos outros profissionais que trabalham nas instituições e naturalmente estão ainda mais sobrecarregados este ano com os preços a aumentar, designadamente, as despesas de água e de luz e tudo isso", disse a presidente do sindicato.
Face ao contexto, o que Mariana Gaio Alves espera é "uma ação enérgica da parte do Governo com medidas de apoio relativamente às condições de trabalho dos professores do ensino superior e às condições em geral das instituições para acolher este número crescente de estudantes".
"O Governo tem mesmo de olhar para este aspeto. Não basta aumentar as vagas e esperar que assim por uma espécie de artes mágicas tudo corra bem nas instituições, precisamos de garantir condições, efetivamente", acrescentou.
Sublinhou que nos últimos três anos o número de caloiros colocados na 1.ª fase tem rondado os 50 mil, mas acrescenta que também tem aumentado o número de estudantes em mestrados e pós-graduações.
"Nas contas que fizemos, nos últimos três anos existem mais 40 mil alunos a frequentar as universidades e politécnicos em Portugal e aquilo que nos preocupa é que não tem existido da parte do Governo e das instituições um investimento nas condições para acolher estes estudantes que estão a aumentar", disse.
Mariana Gaio Alves aponta "falta de condições físicas" nas instituições, ao nível de salas de aula e equipamentos, mas também "falta de condições de trabalho dos professores" para trabalhar com estudantes "cada vez mais diversos".
"Nós temos uma lógica de funcionamento nos últimos anos no ensino superior em que os professores são cada vez em maior número contratados a prazo e contratados a tempo parcial. Cerca de 42% dos professores, nos últimos dados disponíveis, estão contratados a prazo e a tempo parcial. E isto é uma situação que nos preocupa muito, porque dificulta o trabalho das instituições e de constituir equipas estáveis docentes para planearem as atividades de ensino, para acolherem os alunos, para prepararem as aulas e as avaliações", referiu.
Quase 50 mil alunos conseguiram entrar para o ensino superior na primeira fase do concurso nacional de acesso, em que só 19% dos candidatos não obtiveram colocação, segundo os resultados hoje divulgados.
No total, são 49.806 novos estudantes no ensino superior público, o segundo maior número em 33 anos, superado apenas pelos quase 51 mil alunos que ficaram colocados na primeira fase do concurso em 2020.
Por outro lado, diminuiu o número de alunos que, para já, ficaram de fora: dos 61 mil candidatos, 11.701 não conseguiram ainda colocação numa universidade ou politécnico, o equivalente a 19%, menos quatro pontos percentuais face ao ano anterior.
Para a primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior foram disponibilizadas 54.641 vagas, incluindo cerca de mil vagas adicionais incluídas no concurso na sequência de um despacho da tutela para responder ao elevado número de candidatos.
Desse total, sobram agora 5.284 vagas para a segunda fase, que arranca na segunda-feira e termina em 23 de setembro. Os resultados serão depois conhecidos no dia 30 de setembro.
Leia Também: Reitores consideram resultados do acesso "bastante positivos"