Em comunicado, os salesianos referem que, desde que assumiu funções na diocese de Díli "como administrador apostólico e depois bispo", Carlos Ximenes Belo "deixou de estar dependente da Congregação Salesiana", tendo a Província Portuguesa, "a pedido dos seus superiores hierárquicos", recebido o prelado "como hóspede durante os últimos anos".
"Desde que se encontra em Portugal não tem tido quaisquer cargos ou responsabilidades educativas ou pastorais ao serviço da nossa Congregação", asseguram os salesianos, adiantando que "o pedido de hospitalidade" foi "aceite com toda a naturalidade por se tratar de uma pessoa conhecida e estimada por todos".
Sobre as suspeitas de abusos vindas a público na quarta-feira, os salesianos em Portugal afirmam não terem conhecimento para se pronunciarem, remetendo para quem tem essa competência e conhecimento.
O jornal holandês De Groene Amsterdammer publicou na quarta-feira testemunhos de alegadas vítimas de abusos sexuais, quando eram menores, crimes que terão sido cometidos durante vários anos pelo ex-administrador apostólico de Díli e Nobel da Paz Ximenes Belo.
Na sua edição online, o jornal explica ter ouvido várias vítimas e vinte pessoas com conhecimento do caso, incluindo "individualidades, membros do Governo, políticos, funcionários de organizações da sociedade civil e elementos da Igreja".
"Mais de metade das pessoas pessoalmente conhecem uma vítima dos abusos e outros têm conhecimento do caso. O De Groene Amsterdammer falou com outras vítimas que recusaram contar a sua história nos media", referia a jornalista Tjirske Lingsma.
O jornal explicava que as primeiras investigações a este alegado abuso remontam a 2002, quando um timorense denunciou que o seu irmão era vítima de abusos.
Em novembro desse ano, Ximenes Belo anunciou a sua resignação do cargo, alegando problemas de saúde e a necessidade de um longo período de recuperação.
"Estou a sofrer de fadiga mental e física, o que requer um longo período de recuperação", referiu Ximenes Belo, num comunicado em que informava ter escrito à Santa Sé solicitando a renúncia do cargo de Administrador Apostólico de Díli, função que exercia desde 1983.
"Tenho vindo a sofrer de esgotamento, cansaço físico e psicológico, pelo que necessito de um longo período de repouso em vista de uma recuperação total da minha saúde", referia o comunicado, citado então pela Lusa.
Ximenes Belo, hoje com 74 anos, explicou que o seu pedido - escrito com base no Cânone 401 do código de direito canónico - foi aceite pelo então papa João Paulo II.
Entretanto, o representante do Vaticano em Timor-Leste disse na quarta-feira à agência Lusa que o caso está com os órgãos competentes da Santa Sé, sem confirmar se o prelado foi ou não investigado.
"Pessoalmente não posso nem confirmar nem desmentir porque é uma questão de seriedade da minha parte, visto a competência ser dos meus superiores na Santa Sé", disse à Lusa Marco Sprizzi, representante do Vaticano em Timor-Leste.
"Esta questão deve ser dirigida diretamente à Santa Sé", referiu, questionado sobre a veracidade das denúncias de alegados abusos de menores cometidos ao longo de vários anos por Ximenes Belo, atualmente a residir em Portugal, que foram publicadas pelo jornal holandês.
Marco Sprizzi explicou que o caso "está à atenção dos Dicastérios competentes da Santa Sé e da Secretaria de Estado de sua Santidade o Papa Francisco".
O "assunto está diretamente com o Vaticano e a Santa Sé. A Igreja local e a Nunciatura não têm mais competência direta", enfatizou.
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