As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa desta tarde, em como o número de casos de abusos sexuais na igreja já reportados não o surpreende, estão a gerar polémica.
"Não me surpreende. Não há limite de tempo para estas queixas, que vêm de pessoas de 80 ou 90 anos. Estamos perante um universo de milhões ou muitas centenas de milhares de jovens em contacto com a Igreja. Haver 400 casos não me parece particularmente elevado", revelou o Presidente da República aos jornalistas esta tarde.
Embora o Presidente tenha explicado que compara o número com outros países "com horizontes [temporais de investigação] mais pequenos", onde "houve milhares de casos”, as críticas não se fizeram esperar.
"É este o Presidente de uma República laica e de um Estado de Direito? Lamentável. Fosse um caso apenas e já era preocupante", atirou Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda.
"Ainda que fosse só um caso, já seria um caso a mais. Que se passa com o Presidente da República?", atirou a antiga deputada Cristina Rodrigues.
Já Isabel Moreira, na voz do PS, considera "inaceitável" e Joana Mortágua diz que "Marcelo devia estar na primeira linha de condenação ao crimes perpetrados por titulares da igreja" mas "em vez disso, pelo que disse deve ele próprio um pedido de desculpas".
Carlos Guimarães Pinto, deputado da Iniciativa Liberal, afirmou que Marcelo “deve um pedido de desculpas ao país e às vítimas pelas declarações infelizes”. O deputado Mário Lopes, do mesmo partido, admite que em termos estatísticos, o Presidente até pode ter razão, mas considera “inaceitável”, a nível político e social, “dizer isto”.
Também o presidente do Chega, André Ventura, considerou "infelizes" as declarações do chefe de Estado na rede social Twitter.
Também através do Twitter a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, afirmou que "um caso que fosse era grave, muito grave e repudiável, quanto mais 400!".
"É incompreensível a desvalorização dos abusos sexuais de menores na igreja por parte do Presidente da República e inaceitável o contacto que fez ao bispo José Ornelas sobre a denúncia", criticou.
Pelo Livre, Rui Tavares dirigiu-se diretamente a Marcelo: "Senhor Presidente, imagine todo o sofrimento e coragem que foi preciso para que 400 pessoas partilhassem as histórias de abusos que guardaram durante anos. As suas declarações podem ter por consequência minimizar esse sofrimento e desencorajar quem ainda procura forças para falar".
400 queixas de abusos de menores validadas pela Comissão Independente e o comentário do Presidente da República é "o número não é particularmente elevado".
— Pedro Filipe Soares (@PedroFgSoares) October 11, 2022
É este o Presidente de uma República laica e de um Estado de Direito? Lamentável
Fosse um caso apenas e já era preocupante.
O Presidente da República já pediu desculpa às vítimas de abusos sexuais na Igreja e às suas famílias pelas miseráveis declarações de hoje e por não ter estado à altura do cargo que ocupa?
— Pedro Filipe Soares (@PedroFgSoares) October 11, 2022
Marcelo Rebelo de Sousa não me representa. Os abusos de menores não podem ser normalizados nem menorizados. Mas foi o que o presidente fez com os casos na igreja, a avisar o bispo de denúncias e agora a dizer que 400 casos não lhe parece elevado. Não em meu nome. pic.twitter.com/SZCKmI6wSb
— Nelson Peralta (@NelsonPeralta) October 11, 2022
Marcelo Rebelo Sousa sobre abusos sexuais na igreja: “Haver 400 casos de abusos não me parece particularmente elevado” – Observador. Ainda que fosse só um caso, já seria um caso a mais. Que se passa com o Presidente da República? https://t.co/jO5cvbJh1h
— Cristina Rodrigues (@CristinaRodS) October 11, 2022
Abusos na Igreja: “400 casos em milhões não é particularmente elevado”, diz o Presidente https://t.co/lyTZwCWKAE via @expresso - inaceitável .
— Isabel Moreira (@IsabelLMMoreira) October 11, 2022
Marcelo devia estar na primeira linha de condenação ao crimes perpetrados por titulares da igreja; devia estar na primeira linha da exigência de um pedido de desculpas às vítimas . Em vez disso, pelo que disse deve ele próprio um pedido de desculpas. https://t.co/7vRdCgZuUI
— Joana Mortágua ️️️ (@JoanaMortagua) October 11, 2022
O Presidente da República deve um pedido de desculpas ao país e às vítimas pelas declarações infelizes. E nem vale a pena discutir se o número está subestimado porque muitas queixas ficam por fazer. Mesmo que não estivesse, as declarações são inaceitáveis.
— CGP (@carlosgpinto) October 11, 2022
Estatisticamente, Marcelo até pode ter razão: alinhado com o número de outros países. Política e socialmente, dizer isto é absolutamente inaceitável. Marcelo é inepto para ser PR.
— MAL 🇺🇦 (@mlopes) October 11, 2022
Marcelo: "Haver 400 casos de abusos não me parece particularmente elevado": https://t.co/eJVesg9WNj
Que declarações tão infelizes de Marcelo Rebelo de Sousa! Uma vítima de abusos sexuais, mesmo que fosse só uma, já seria muito grave. O país deve pedir desculpa às vítimas- e o Presidente também- e não menorizar o seu sofrimento!
— André Ventura (@AndreCVentura) October 11, 2022
1 caso que fosse era grave, muito grave e repudiável, quanto mais 400!
— Inês de Sousa Real (@lnes_Sousa_Real) October 11, 2022
É incompreensível a desvalorização dos abusos sexuais de menores na igreja por parte do Presidente da República e inaceitável o contacto que fez ao bispo José Ornelas sobre a denúncia.https://t.co/WJdwnx8Ume
Senhor Presidente, imagine todo o sofrimento e coragem que foi preciso para que 400 pessoas partilhassem as histórias de abusos que guardaram durante anos. As suas declarações podem ter por consequência minimizar esse sofrimento e desencorajar quem ainda procura forças para falar
— rui tavares (@ruitavares) October 11, 2022
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa já recebeu 424 testemunhos, revelou hoje o coordenador Pedro Strecht, assumindo que a maior parte dos crimes reportados já prescreveu.
"Há 424 testemunhos recolhidos pelas diversas formas englobadas no trabalho da Comissão. Juntam-se a estes oito casos enviados pelas comissões diocesanas. O número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa", afirmou o pedopsiquiatra, assinalando: "A maior parte das situações encontra-se juridicamente prescrita".
O coordenador da Comissão salientou que os 424 depoimentos hoje anunciados são aqueles que foram validados pelos membros, mas que já receberam mais testemunhos. Quanto aos 17 casos já enviados para o Ministério Público, Pedro Strecht referiu que "dizem respeito a situações que, depois de análise detalhada, são considerados como não prescritos dentro do tempo em que aconteceram", destacando que "no final serão enviados todos os nomes".
[Notícia atualizada às 19h57]
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