400 queixas não surpreende? Partidos repudiam declarações de Marcelo

Declarações estão a ser alvo de críticas.

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Marta Amorim
11/10/2022 19:02 ‧ 11/10/2022 por Marta Amorim

Política

Abusos na Igreja

As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa desta tarde, em como o número de casos de abusos sexuais na igreja já reportados não o surpreende, estão a gerar polémica. 

"Não me surpreende. Não há limite de tempo para estas queixas, que vêm de pessoas de 80 ou 90 anos. Estamos perante um universo de milhões ou muitas centenas de milhares de jovens em contacto com a Igreja. Haver 400 casos não me parece particularmente elevado", revelou o Presidente da República aos jornalistas esta tarde. 

Embora o Presidente tenha explicado que compara o número com outros países "com horizontes [temporais de investigação] mais pequenos", onde  "houve milhares de casos”, as críticas não se fizeram esperar. 

"É este o Presidente de uma República laica e de um Estado de Direito? Lamentável. Fosse um caso apenas e já era preocupante", atirou Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda. 

"Ainda que fosse só um caso, já seria um caso a mais. Que se passa com o Presidente da República?", atirou a antiga deputada Cristina Rodrigues.

Já Isabel Moreira, na voz do PS, considera "inaceitável" e Joana Mortágua diz que "Marcelo devia estar na primeira linha de condenação ao crimes perpetrados por titulares da igreja" mas "em vez disso, pelo que disse deve ele próprio um pedido de desculpas". 

Carlos Guimarães Pinto, deputado da Iniciativa Liberal, afirmou que Marcelo “deve um pedido de desculpas ao país e às vítimas pelas declarações infelizes”. O deputado Mário Lopes, do mesmo partido, admite que em termos estatísticos, o Presidente até pode ter razão, mas considera “inaceitável”, a nível político e social, “dizer isto”.

Também o presidente do Chega, André Ventura, considerou "infelizes" as declarações do chefe de Estado na rede social Twitter.

Também através do Twitter a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, afirmou que "um caso que fosse era grave, muito grave e repudiável, quanto mais 400!".

"É incompreensível a desvalorização dos abusos sexuais de menores na igreja por parte do Presidente da República e inaceitável o contacto que fez ao bispo José Ornelas sobre a denúncia", criticou.

Pelo Livre, Rui Tavares dirigiu-se diretamente a Marcelo: "Senhor Presidente, imagine todo o sofrimento e coragem que foi preciso para que 400 pessoas partilhassem as histórias de abusos que guardaram durante anos. As suas declarações podem ter por consequência minimizar esse sofrimento e desencorajar quem ainda procura forças para falar".

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa já recebeu 424 testemunhos, revelou hoje o coordenador Pedro Strecht, assumindo que a maior parte dos crimes reportados já prescreveu.
 
"Há 424 testemunhos recolhidos pelas diversas formas englobadas no trabalho da Comissão. Juntam-se a estes oito casos enviados pelas comissões diocesanas. O número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa", afirmou o pedopsiquiatra, assinalando: "A maior parte das situações encontra-se juridicamente prescrita".

O coordenador da Comissão salientou que os 424 depoimentos hoje anunciados são aqueles que foram validados pelos membros, mas que já receberam mais testemunhos. Quanto aos 17 casos já enviados para o Ministério Público, Pedro Strecht referiu que "dizem respeito a situações que, depois de análise detalhada, são considerados como não prescritos dentro do tempo em que aconteceram", destacando que "no final serão enviados todos os nomes".

[Notícia atualizada às 19h57]

Leia Também: Abusos na Igreja. "Haver 400 casos não me parece particularmente elevado"

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