"É uma vitória da democracia, dos valores da tolerância, do respeito pelo Estado de Direito e dos direitos humanos no Brasil", afirmou à Lusa, por telefone, Isabel Santos, que acompanha, a título particular, a noite eleitoral juntamente com observadores e convidados internacionais na sede de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores - PT), que venceu a segunda volta das eleições presidenciais brasileiras, derrotando Jair Bolsonaro, que procurava um segundo mandato na Presidência.
Também o fundador do BE Luís Fazenda, que segue esta noite eleitoral no mesmo local, na qualidade de representante do Bloco e dirigente do Partido da Esquerda Europeia, destacou que a eleição de Lula da Silva é "uma vitória importante para a democracia em geral, para o povo brasileiro mas também para a geopolítica mundial".
"É uma derrota das correntes 'trumpistas', da reação internacional de tudo o que querem aniquilar dos direitos humanos, do negacionismo, das alterações climáticas, de tudo aquilo que querem instalar de modelos retrógrados de famílias e de liberdades individuais, de confusão entre igreja e o Estado, que aqui são barrados com a vitória de Lula", comentou Luís Fazenda
Na opinião dos dois políticos da esquerda portuguesa, Lula da Silva terá de enfrentar grandes desafios, desde logo um Congresso que não lhe é favorável e um país fraturado ao meio, a nível ideológico.
"Terá de unir todos os brasileiros e começar com reformas que permitam devolver aos brasileiros condições de dignidade que já tinham sido atingidas durante a anterior governação de Lula da Silva e que entretanto foram perdidas", comentou Isabel Santos, exemplificando que em 2014 o Brasil saiu do mapa da fome das Nações Unidas e entretanto regressou, "com 33 milhões de brasileiros a passar fome".
Para a eurodeputada, o Presidente eleito "tem sido um homem de unidade e essa sua experiência vai servir de alicerce para construir vias de diálogo e de cooperação e de envolvimento de todos os brasileiros na vida do país".
Para Luís Fazenda, "o 'bolsonarismo' vai resistir, tem uma maioria no Congresso, mas certamente abre-se aqui uma espécie de terceiro turno, que é aquele da imposição do programa eleitoral de Lula, independentemente das forças mais retrógradas que se encontram no Congresso".
"Vai haver aqui naturalmente uma disputa entre o Presidente e o Congresso", vaticinou o bloquista, que apontou a defesa do ambiente, a "recuperação de uma faceta da política internacional do Brasil, a reposição de políticas públicas de combate à fome e exclusão e o relançamento de indústrias" como as prioridades do próximo Governo.
Sobre a atual clivagem social que estas eleições acentuaram, Fazenda considerou que ultrapassá-la é "um processo longo".
Lula "terá de isolar este núcleo destas políticas de extrema-direita e desfazer equívocos e a mentira como linha oficial do Governo", disse.
Os dois políticos portugueses acreditam que Lula da Silva, que assumirá funções em 01 de janeiro de 2023, vai apostar na diplomacia e no multilateralismo, desde logo reforçando relações com a União Europeia.
O candidato do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda), Luís Inácio Lula da Silva, foi hoje eleito Presidente brasileiro, com 50,83% dos votos, derrotando Jair Bolsonaro (extrema-direita), que obteve 49,17%, quando estavam contadas 98,81% das secções eleitorais.
Lula da Silva, que já cumpriu dois mandatos entre 2003 e 2011, regressa ao Palácio da Alvorado após uma vitória na segunda volta, pela primeira na história democrática recente do Brasil, sobre um chefe de Estado que era recandidato.
O antigo sindicalista terá como vice-presidente Geraldo Alckmin, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que já havia sido seu opositor nas eleições presidenciais de 2006, então pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
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