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Movimento de cidadãos luta por 'Vida Justa' e salários para viver

"Se ligar o aquecedor, no mês seguinte não como" é um dos motes de uma manifestação no sábado, organizada por um movimento nascido na periferia de Lisboa. Lutam por salários para viver e bens essenciais acessíveis. Lutam por uma 'Vida Justa'.

Movimento de cidadãos luta por 'Vida Justa' e salários para viver
Notícias ao Minuto

09:15 - 24/02/23 por Lusa

País Pobreza

O movimento Vida Justa é composto não só por moradores dos bairros da periferia de Lisboa, como também por pessoas de movimentos sociais e cidadãos de vários setores, como professores, juristas, antropólogos, investigadores, entre tantas outras profissões, que se juntaram para alertar para situações de precariedade vividas atualmente.

Os subscritores do movimento convocaram para sábado uma manifestação, entre o Marquês de Pombal e a Assembleia da República, em São Bento, Lisboa, e várias concentrações locais, "para defesa dos bairros e da dignidade de vida dos que trabalham e que criam a riqueza do país".

"Temos isto aqui bem claro, por uma vida justa. Não mais do que isso, nós não pedimos salários milionários. Nós não pedimos ao Estado algo que não nos é por direito. Simplesmente pedimos por uma vida justa e eu acho que é um pedido muito justo", disse à Lusa Celso Lopes.

Celso é um dos rostos do movimento cívico. Mora no bairro da Cova da Moura, na Amadora, distrito de Lisboa. Enquanto explicava à Lusa as causas do movimento, segurava na mão o papel amarelo com letras pretas onde está descrito parte do manifesto.

"Limitar os preços dos bens essenciais, salários para viver, casa para as pessoas (e não para a especulação). Manifestação por uma vida justa. Basta de aumento dos preços. Em Lisboa, do Marquês até São Bento, sábado, 25 de fevereiro, 15:00", lê-se no folheto.

"Sou uma pessoa que vive no bairro, que sofre com o impacto que todas essas políticas têm nas pessoas do bairro. Por isso, e inevitavelmente, eu sou uma pessoa que faz parte deste movimento", contou, lembrando que há pessoas que veem "as coisas como algo mais politizado", mas que, no seu caso, a associação se deveu "à situação que o exige".

"Não é porque nós queremos agora fazer uma carreira política, nós queremos é que não seja algo estritamente exclusivo para uma elite que já está mais do que confortável, ali no parlamento e por aí a fora. Nós também temos condições de nos organizar", referiu.

Celso Lopes reconheceu que os habitantes dos bairros dos arredores da capital, mas também do Porto e Algarve, "têm pouca visibilidade" e sofrem muito "com o impacto que teve na economia global e nacional" a guerra na Ucrânia, depois da pandemia de covid-19.

"Todas estas zonas são mais fragilizadas [...], para nós é sempre muito mais complicado, porque as famílias aqui são famílias que sofrem e recebem um salário muito abaixo da média nacional. Quando nós vemos a inflação nos preços, nos produtos essenciais, é muito mais complicado para as famílias que não têm uma economia tão resiliente, por assim dizer, em comparação com a média nacional", admitiu.

Por isso, continuou, é importante o bairro estar envolvido "nestes movimentos" para todos saberem que "são as pessoas que são o catalisador para a mudança", para que as "suas vozes sejam ouvidas" e que não é só o que é decidido no "parlamento e nas assembleias municipais" que conta.

A Lusa percorreu, em vésperas da manifestação, as ruas do bairro da Cova da Moura com Flávio Almada, também um dos rostos do movimento e agente de educação familiar da Associação Cultural Moinho da Juventude.

Enquanto cumprimentava os habitantes, todos pelo nome, entregava a 'convocatória' amarela e explicava o que dizia o papel e a importância da presença no sábado.

Felisberto Brito, morador no bairro há cerca de 40 anos, é dono de um café. Contou que os dias de hoje são diferentes de quando chegou à Cova da Moura: "agora começam as dificuldades para as pessoas, mais dificuldades ainda do que o início", quando se estabeleceu.

"Com esta crise toda, há sempre mais dificuldade. É mais difícil porque o pessoal não tem dinheiro para comprar e toda a gente quer satisfazer as suas necessidades", disse, lembrando também que os próprios bens que adquire para o seu estabelecimento aumentaram e, como consequência, também teve de aumentar os preços de venda.

Reginaldo Spínola, um outro morador, já sabia da manifestação de sábado e sublinhou à Lusa ser "muito importante" não só para o bairro, mas para tudo o que está a acontecer na sociedade.

"Uma manifestação tem sempre importância nas nossas vidas, não é? É muito importante, não só para o nosso bairro, mas também para tudo o que está a acontecer. Daqui a nada morremos à fome, o dinheiro nunca chega para nada", desabafou, lamentando ao mesmo tempo "não ter vida pessoal a solo", dado que não consegue comprar casa, ter um carro e comer onde quer "porque o ordenado nunca chega".

"O dinheiro está mal distribuído no mundo. Há muita riqueza numa parte e muita pobreza em outras partes", lamentou.

Já para dar um exemplo do que se passa na Cova da Moura relativamnete à precariedade de empregos, Reginaldo explicou que a polícia fechou pequenos comércios que serviam a comunidade, nomeadamente "cinco bares que davam emprego a 20/30 pessoas."

"Depois da pandemia os problemas aumentaram muito mais, há muito desemprego", reconheceu.

Emília Alves estava rodeada de 'netos' e, à passagem de Flávio Almada, abeirou-se da porta de ferro da casa. À Lusa disse que no sábado vai estar no Marquês de Pombal, para protestar "porque o aumento dos preços está muito exagerado".

"Não há poder de compra. Os pobres estão cada vez mais pobres, os ricos estão cada vez mais ricos, por isso é necessário a manifestação. É preciso mais habitação, mais empregos, mais estabilidade, empregos com pagamentos justos para os trabalhadores", frisou.

O manifesto do movimento começa com o alerta de que "todos os dias os preços sobem, os despejos de casas aumentam e os salários dão para menos dias do mês. As pessoas estão a escolher se vão aquecer as suas casas ou comer".

No documento, já assinado por perto de 400 subscritores, salienta-se a importância de "dar poder às pessoas para conseguirem ter uma vida digna", exigindo um programa de crise que "defenda quem trabalha".

"Os preços da energia e dos produtos alimentares essenciais devem ser tabelados; os juros dos empréstimos das casas congelados, impedir as rendas especulativas das casas, os despejos proibidos; deve haver um aumento geral dos salários acima da inflação; medidas para apoiar os comércios, pequenas empresas e os postos de trabalho locais e valorizar económica e socialmente os trabalhos mais invisíveis como o de quem trabalha na limpeza", lê-se no manifesto.

Leia Também: Que famílias podem receber o apoio (de até 200€) para pagar a renda?

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